“Um milhão de finais felizes”

por Jully Mendes

Releituras na Quarentena

O livro “Um milhão de finais felizes”, do autor brasileiro Vitor Martins, é uma história de romance com muitos temas importantes, sendo o principal a dificuldade que muitas pessoas passam ao se descobrirem parte da comunidade LGBT. Apesar de tratar de um assunto extremamente relevante e que ainda há muito o que ser debatido no nosso país, o autor consegue desenvolver a trama de maneira realista e com certa leveza, apresentando a importância da amizade, autoaceitação, do apoio e base familiar para a construção de um indivíduo.

A história se passa na cidade de São Paulo e é narrada através do ponto de vista de Jonas, o personagem principal, abrangendo sua trajetória que no livro inicia com a dor de um garoto gay cuja família cristã e conservadora sequer pode imaginar sua orientação sexual, a um jovem que se torna independente, completamente feliz e seguro de si.

Jonas é um garoto de família humilde. Ele mora com a mãe — uma mulher cristã que segue à risca os ensinamentos bíblicos — e o pai — um homem extremamente abusivo com a família e conservador. Assim como é na realidade de muitos jovens, desde muito novo, Jonas já tinha interesse por pessoas do mesmo sexo e guardava esse sentimento somente para si, receoso do que os pais poderiam fazer caso descobrissem. Ao conhecer Isabela e Danilo, que são seus melhores amigos desde a época do colégio, Jonas soube que poderia compartilhar com eles seu segredo, e assim o fez.

O personagem principal tem o sonho de ser escritor e possui o hábito de anotar diversas ideias que tem em mente num caderninho de bolso para colocá-las em prática futuramente, mas infelizmente ele coloca esse plano de lado devido ao fato de precisar trabalhar. Então, aos 19 anos, ele consegue emprego numa cafeteria. Grande parte dos dias de Jonas são comuns e rotineiros, mas tudo muda quando, em um dia no trabalho, conhece Arthur e imediatamente se apaixona por ele. Desse encontro inesperado, surge uma ideia em sua mente e ele decide escrever uma história de amor baseada no homem que acabou de conhecer. Um tempo depois, os dois começam a namorar.

É a partir daqui que a história ruma para o desenvolvimento e amadurecimento de Jonas, ao pensar na sua vida e no que o faz feliz, retirando de suas costas o peso do pecado que acreditava estar cometendo por ele ser quem é. A maneira como os sentimentos e reflexões de Jonas são expressos no livro permite que o leitor compreenda como o personagem se vê e se sente nas diferentes fases do enredo. A relação dele com seus amigos também é muito bem apresentada, sendo mostrado um pouco da realidade de cada um e dos monstros interiores com o que têm de lidar. A leitura é rápida, divertida, um pouco sensível e sua abordagem ao tema principal é feita de forma semelhante à realidade de muitos jovens cuja família é tradicional. Recomendo o livro para todos, mas acredito que ele também possa ser uma forma de suporte para quem esteja passando por uma situação semelhante e ajude alguém que esteja se culpando por conta de sua sexualidade a enxergar que não há nada de errado consigo.

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