“Tempestade de Guerra”, Victoria Aveyard

Por Giovanna Lima

Sendo o último livro da inacreditável história de Mare Barrow, pode-se esperar pelo dobro de ação, jogos políticos, traições e quebras de alianças comparado a todos os livros da coleção. O trabalho impecável de Aveyard em finalizar a trama e amarrar todas as pontas soltas é muito bem definido no decorrer de 700 páginas, deixando impossível para que o leitor desgrude do livro. 

Tendo trabalhado toda a história dos prateados, vermelhos e rubros em todos os livros anteriores, a única coisa que o leitor espera para Tempestade de Guerra é como Mare vai conseguir vencer a batalha do século tendo perdido o amor de sua vida no livro anterior pela odiada representação da coroa. 

Gostando de Mare ou não, há de se imaginar que pela casca cada vez mais dura que a personagem constrói durante sua trajetória será praticamente impossível tirá-la do caminho da liberdade de seu povo, mesmo que isso signifique a morte de Tiberias VI Calore ou a destruição da monarquia. A garota elétrica tem apoio e sabe exatamente por quem e para quê está lutando. 

Fato que, em minha opinião, é o que falta na maioria das protagonistas de livros tão famosos quanto “A Rainha Vermelha”. Mare Barrow veio do nada como muitas, mas ela não deixa que seus sentimentos – sejam eles quais forem – atrapalhem a luta de uma classe oprimida. Além, claro, de que mesmo quando sofre, mesmo quando é destruída até o seu último fio de cabelo, ela arranja forças para se reerguer mais forte, mais preparada para o que pode estar a seguir. Ela não tem medo de fazer o ruim para atingir seu objetivo.

Mare Barrow não deixa que outros façam o seu trabalho, ela não recua dos seus deveres, nem mesmo quando está severamente machucada. Mare não deixa seus sentimentos por um rapaz – que será o seu amor eterno – tirarem o foco do seu objetivo. Ela não implora para que Cal mude de opinião. Ela questiona se ele tem certeza de sua decisão, como qualquer outra pessoa tão apaixonada quanto ela faria, mas ela não permite que a escolha de Cal interfira em sua jornada. Pois essa jornada é dela e de mais ninguém. 

A falta dessa garra sempre fincada no objetivo é o que torna muitos livros famosos por suas protagonistas fortes um fracasso sob o olhar crítico do público feminino. O romance é sempre bem vindo, mas ele não deve se tornar todo o mundo da protagonista. Ele não deve ser capaz de diminuir os objetivos dela fora do relacionamento e muito menos tornar a busca pelo fim desejado tão difícil de acompanhar, ou em alguns casos, fácil demais de obter. É uma linha de equilíbrio tão difícil, mas Aveyard a faz com maestria. 

O mais especial de Tempestade de Guerra é a quantidade grande de diferentes pontos de vista que são acrescentados durante toda a narrativa, tornando a leitura dinâmica com os diferentes lados de uma guerra. Estamos juntos da Guarda Escarlate com Mare, junto da mente danificada de Maven, mas também temos uma visão de Tiberias e sua corte de prateados, assim como a Íris, a cobra d’água que se esconde no peito de Norta. E, apesar de Íris não ser a detentora de meu favoritismo, não posso negar que ela é uma rainha formidável em muitos aspectos, mas que ainda vive muito na barra da saia da mãe, não conseguindo ir muito longe como deveria. 

Podemos finalmente ver o desfecho de grande batalhas esperadas desde o começo, assim como a morte de diversos personagens – que em sua maioria mereciam esse fim – e a liberdade de personagens que parecia nunca estar pronta para acontecer. Acompanhamos de pertinho o levantar final da revolução da classe mais oprimida contra seus opressores e como sua vitória tem um gosto doce de justiça e merecimento. 

Entretanto, apesar de todo o trabalho muito bem feito com relação aos jogos políticos, parcerias, reviravoltas e batalhas, Aveyard acaba deixando a desejar com seus últimos capítulos, não dando a garota elétrica muito tempo de tela na batalha final e, apesar de conquistar o feito que todos esperavam, o resultado dos esforços de toda uma nação parecem ser varridos das preocupações de Mare com muita facilidade, coisa que não condiz tanto com sua personalidade. 

É compreensível que a cena final do livro seja com Gisa, irmã mais nova de Mare, que assim como Kilorn tem tanto impacto desde o início na vida e nas decisões da protagonista,  mas Aveyard ainda assim deixa tantas perguntas penduradas no ar, que é decepcionante não ver um capítulo com um time skip pulando todo o período turbulento de ajuste da nova democracia (que sempre é muito complicado e maçante de se trabalhar) e explicar como todas as coisas acabaram ficando. 

Norta e Lakeland nunca mais entraram em guerra? Montfort finalmente exigiu algo da Guarda Escarlate e seus aliados por toda a ajuda que prestaram? As terras a oeste se renderam? Existem mais prateados, rubros ou vermelhos como líderes de estado? Qual fim os personagens chegaram após colocarem suas armas e roupas de batalha para descansar? 

A autora deixa claro que Mare e Cal, apesar de serem endgame, não terminam juntos, pois ambos precisam de tempo para se curar, para se encontrar, e eu acho isso lindo, diferente de praticamente todos os livros existentes, já que ambos personagens só tem 18 anos, ainda estão na flor da idade e o sinônimo de felicidade não deveria ser casamento e filhos em tão tenra idade. Porém, não só do relacionamento deles o interesse do leitor foi construído. Aveyard trabalha com tantos personagens interessantes, que fica impossível não querer saber o que eles também estão fazendo enquanto os principais seguem seus rumos para se descobrirem. 

Talvez a falta de informação sobre o futuro de Norta seja respondida em Trono Destruído, livro de coletâneas da autora, porém não torna menos decepcionante ver um final tão simples e ralo comparado a bomba de informações que seus livros sempre vieram acompanhados. 

Ganhamos, mas e agora? Acredito que os fãs da série merecem saber o que seus personagens estão fazendo 5 ou 10 anos depois do fim da guerra. Não parece um adeus apropriado a se dar dessa forma e esperar que os leitores se contentem com coletâneas em outro livro. 

Infelizmente, o que nos resta é conviver com a saudade que esses personagens vão deixar e esperar que possamos encontrar as respostas em Trono Destruído.

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