Por que ler A Cidade do Sol?

Releituras na Quarentena

Por Talita Ferreira Martins





Para iniciar esse novo envolvimento literário, aviso de antemão que, para prosseguir com a leitura do livro em questão, é preciso ter paciência pelo fato de se tratar de uma obra que contém menções específicas de uma cultura na qual não estamos habituados (pelo menos acredito que a maioria de nós não esteja).

O livro “A Cidade do Sol” (do original A Thousand Splendid Suns) tem como autor o romancista afegão Khaled Hosseini. A partir daí, já se pode imaginar o porquê da leitura contar com uma expansão cultural, digamos, que possivelmente agregará no nosso “eu literário”.

Temos duas personagens principais: Mariam e Laila. Falando sobre a primeira, que é por onde a história começa, a mesma passa por acontecimentos complicados desde muito nova. Vivia com a mãe numa kolba, mãe essa que chamava a filha “carinhosamente” de harami – que significa bastarda, em pashto – e todas as quintas-feiras aguardava ansiosa e animadamente pela visita de seu pai, Jalil. No decorrer dos primeiros capítulos, podemos até achar que sua mãe a odiava, porém é de se imaginar a complexidade das relações, tanto pelo fato de como a filha foi concebida, e tanto pelo fato de como procedeu o nascimento, a criação e as condições na qual ambas foram expostas.  

Mariam foi dada em casamento quando tinha quinze anos, enquanto seu esposo tinha quarenta e cinco. Esse é um fato mencionado na história que pode causar espanto a qualquer um que ler e, como já mencionei, não for habituado com esse tipo de cultura.                 

Por outro lado temos Laila, uma menina jovem que, até então, nada tinha a ver com Mariam ou com Rashid (marido de Mariam). Assim como Mariam, Laila precisou lidar com situações complicadas envolvendo seus familiares. Sua mãe sofria mudanças de humor constantemente, isso pelo fato de estar sofrendo com questões relacionadas aos outros dois filhos que não estavam lá no momento. Laila não os conhecia. Além disso, era esquecida na escola pelos pais e já precisava cuidar da casa pois, caso não fizesse, nada se arrumaria.

As vidas de Laila e Mariam se uniram devido a acontecimentos desagradáveis que o lugar no qual moravam estava sujeito. Ainda que estivesse infeliz, vivendo a base do machismo e sabendo das condições ruins nas quais se encontrava, Mariam não deixou de acolher Laila em sua casa. Nessa época, Mariam já tinha mais idade, enquanto Laila ainda era bem jovem.

É a partir desse acontecimento que se inicia a jornada de duas mulheres precisando passar juntas por toda agressão verbal e física dentro de casa, precisando enfrentar juntas o julgamento dos de fora e contanto somente com a ajuda uma da outra, já que as autoridades estavam sempre a favor dos homens.

Visto que, aparentemente, é uma leitura mais pesada, por que ler algo assim?

Simplesmente para sair do clichê dos romances estadunidenses ou algo do tipo. É dar espaço ao novo, conhecer novos finais felizes e estar exposto à uma cultura que não temos contato constantemente.  Abaixo, vou deixar um trecho do livro que destaca as proibições das mulheres imposta pelos Talibãs, que tinham acabado de tomar Cabul:

“ Atenção mulheres:

[…] a mulher que for apanhada sozinha na rua será espancada e mandada de volta para casa. Vocês não deverão mostrar o rosto em circunstância alguma.

Estão proibidos os cosméticos.

Só deverão falar quando alguém lhes dirigir a palavra.

Não deverão rir em público. A mulher que fizer isso será espancada.”

( capítulo 37, página 245)

Há muito mais no decorrer do capítulo, mas é importante destacar que não se trata somente disso, mas também da forma que essas figuras femininas escolheram se portar diante de todas essas situações e do vínculo que construíram algum tempo depois, levando-as a um lugar que só descobrirão se tirarem um tempinho para a leitura dessa obra e para quem quiser  descobrir todos os porquês dessa história, o livro está disponível  na Biblioteca do CCMN, localizado em L891.5933H842TP.

Tenham todes uma boa leitura!

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