“A Relíquia”, Eça de Queirós

Por Luanna Blanc

-“Sobre a nudez forte da Verdade, o manto diáfano da Fantasia” 

(por Luanna Blanc, terceiro período de Pintura)

Olá, pessoa deste mundo! Ou possivelmente de outro… Se você está acessando esta página é porque: 

A- terá uma prova do livro amanhã 

B- tem um trabalho para entregar esta semana e por alguma razão cruel e inexplicável, sua mente o condenou à preguiça. 

É brincadeira. Apesar de ser uma obra com uma linguagem um pouco mais difícil de se decifrar, já que não estamos propriamente acostumados (principalmente quando se está iniciando no universo literário), é também deveras divertido. De uma forma ou de outra, esteja você aqui pelo motivo A ou B, caso queira tornar-se mais íntimo do enredo, apenas continue a leitura, mas já adianto, e sinto em dizer, que o desfecho caberá a você descobrir. 

Autor: Eça de Queirós 

Ano de Publicação: 1887 

Link do livro na Base Minerva: Faculdade de Letras – Coleção (ufrj.br)

Tendo sua primeira edição publicada no ano de 1887, “A Relíquia”, do escritor José Maria de Eça de Queirós, trata-se de um romance engajado, sendo classificado como realista fantástico, repleto de críticas sociais a uma sociedade onde a inversão de valores apodera-se de todas as instituições, no qual os defeitos são expostos como uma ferida ao álcool. 

Não há como negar que Eça de Queirós, como é de costume em sua escrita, traz à tona um conteúdo comum, contudo de um ponto de vista curioso para desenvolver e analisar em sua obra: os desejos da carne e diversas concepções em relação às práticas daqueles que se dizem “bons fiéis”. E para retratar esse assunto de uma maneira mais branda, Eça nos apresenta um então chamado anti-herói, pois que enaltece todas as críticas acerca do mau católico, aquele cuja mente está preenchida pela necessidade dos prazeres constantes e em uma teimosia inescrupulosa, o nosso querido e amado Teodorico, que busca no livro apresentar suas memórias, as quais são justificadas logo na introdução. 

Órfão aos sete anos, Teodorico Raposo vê-se sob a guarda de sua única tia, uma mulher rica e de uma aparente devoção fervorosa, sem filhos, porém, para deixar a herança. Diante dessa situação e da possibilidade de uma riqueza futura, Teodorico inicia tentativas de fingir-se santo para, após a morte da tia, tomar o controle de todas as suas posses. Como consequência do caso, acaba por se encontrar em interessantes situações conflituosas entre prazer e falsa religiosidade. Uma delas é quando parte para Jerusalém, para trilhar pela “titi”, como se referia à tia, o caminho sagrado, o qual ela se vê impossibilitada de percorrer por suas condições físicas. Mas essa não é sua única missão, Teodorico é colocado sob a incumbência de trazer à mulher uma pequena recordação da Terra Santa, fato que se apresentará mais laborioso do que o aparente. O início de sua dificuldade se dá quando acaba por se hospedar em Alexandria, onde se apaixona perdidamente pela prostituta Mary, ou “Maricoquinhas”, um apelido carinhoso dado por ele. Este envolvimento o leva a uma hipocrisia de enlaces e desenlaces, lembranças e recordações, que findam por afrontar a tia e retirá-lo definitivamente do testamento. 

Considerando que a escrita data do final do século XIX, há sim alguma dificuldade em desvendar muitas das ironias trazidas ao longo da narrativa, assim como nas obras, por exemplo, de Jane Austen, cujos diálogos eloquentes e sarcásticos muitas vezes passam por nossos olhos sem qualquer significado aparente. Contudo, o esforço para desvendar as intrincadas frases é muito bem recompensado pelo desenrolar da trama. Boa leitura!

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