“Verdade Tropical”, Caetano Veloso

Por Vitor da Hora

Verdade Tropical é um livro de memórias escrito pelo cantor Caetano Veloso e publicado primeiramente em 1997. Nascido no município de Santo Amaro no Recôncavo Baiano em 1942, Caetano dispensa apresentações: o filho de Seu Zezinho e Dona Canô tornou-se figura canônica no panteão dos grandes nomes da Música Popular Brasileira, junto com a irmã Maria Bethânia. Ao lado dos conterrâneos Gilberto Gil e Gal Costa, recém falecida, foi um dos idealizadores da Tropicália durante os anos de recrudescimento da Ditadura Militar, e desde então se tornou onipresente na cultura nacional. 

Verdade Tropical pode ser descrito como um livro autobiográfico, embora esta possa ser considerada um classificação, de certo modo, restritiva – visto que no texto também há elementos da escrita de ensaio, especialmente ao interpolar sua trajetória pessoal com questões sobre a formação histórica da música brasileira bem como a vida política do país, além de divagar sobre pensamentos de diversos intelectuais das ciências humanas. O livro é dividido em quatro partes: a primeira sobre a infância e adolescência na Bahia, ao lado de Seu Zezinho, Dona Canô, Maria Bethânia e seus outros irmãos; a segunda sobre o início de sua carreira artística e a explosão do Tropicalismo; a terceira sobre sua prisão, ao lado de Gil, após o AI-5; e a última sobre os anos entre o exílio em Londres e seu retorno ao Brasil. Embora a primeira parte desperte curiosidade, e a segunda e a quarta deslumbram ao descrever cenas do emblemático contexto político-cultural do período, o destaque fica com a terceira parte do livro: intitulada Narciso em férias, o relato da experiência do artista na cadeia emociona ao narrar o período mais sombrio da história republicana brasileira e as mazelas psicológicas carregadas pelas vítimas da repressão. 

Escrito durante a primeira metade da década de 1990 – quando Caetano, aos mais de 25 anos de carreira, já gozava de um status de lenda da MPB, e o Brasil passava a conviver com um recém reestabelecido ambiente democrático – o livro esbanja um tom saudosista. Embora fascinante, é uma leitora desafiadora, graças à escrita de Caetano, ao mesmo tempo pretensiosa e instigante. Cinco anos antes da publicação de Verdade Tropical, a canção Alegria, Alegria de 1967 foi tema da célebre minissérie da TV Globo Anos Rebeldes, demonstrando que este era um período em que a cultura popular buscou revisitar a memória da contracultura dos Anos de Chumbo, o que claramente influenciou na escrita do livro. O livro atende perfeitamente a expectativa de revisitar aquele período, encantando com os testemunhos, relatos e reflexões sobre episódios da cultura brasileira em um momento de efervescência apesar da repressão política – sendo uma leitura imprescindível para quem deseja conhecer a fundo a história da música brasileira, através das palavras de um dos seus maiores ícones.

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