“Ponto de Fuga”, de Mary Sharratt

Por Raquel Martins

Ao iniciar Ponto de Fuga, a leitura fluiu vagarosamente nas primeiras trinta páginas conforme apresentava o dia a dia das irmãs Hannah e May que viviam com seu pai na América do Século XVII, contudo, após o primeiro impacto ligeiramente monótono, o fluxo da história mudou quando May foi enviada para se casar com um primo distante e deixou Hannah e o pai para trás. Após alguns meses, o pai das duas falece e assim Hannah inicia sua jornada atrás de sua irmã mais velha.

Conforme a história avança é possível sentir um compilado de emoções que vão desde o mais puro tédio até a mais intensa adrenalina. Com uma narrativa lenta e rica em detalhes, Mary Sharrat tece um enredo cheio de reviravoltas emocionantes. Ao acompanharmos as descobertas de Hannah nesse novo mundo que ela está desbravando enquanto busca por May, vemos que há uma profunda história a ser revelada, afinal, as irmãs Powers em algum momento entre os meses que se passaram desde que se despediram, perderam o contato e isso fez com que um abismo se formasse entre elas.

Hannah, ao se deparar com um cenário que a faz ficar sem chão, acaba por ter que aceitar a ajuda de um completo estranho chamado Gabriel que se apresenta como o homem que foi casado com May. Totalmente desolada por sua busca não ter obtido o resultado que queria, Hannah se vê forçada a permanecer nas terras de Gabriel enquanto decide o que fará, pois não possui mais família ou um lugar seguro para ficar.

Juntos, eles descobrem uma maneira de conviver enquanto segredos são revelados pouco a pouco. Sem intenção, Gabriel acaba se encantando por Hannah, assim como ela por ele e os dois iniciam um romance arrebatador, porém, como a sociedade da época não era acolhedora com jovens solteiras, principalmente jovens solteiras que se envolviam com homens sem antes se casarem, Hannah insiste para que ela e Gabriel oficializem seu relacionamento. Entretanto, Gabriel não deseja estar em meio as pessoas novamente, para ele a vida solitária é a ideal. Contudo, por amar Hannah, ele aceita, mas antes que possa sequer tomar alguma atitude quanto a isso, os dois têm sua realidade abalada mais uma vez.

Os vizinhos de Gabriel aparecem em suas terras e fazem revelações chocantes para Hannah que fica dividida entre acreditar no homem que ama ou nos desconhecidos que alegam que ele é um assassino. E em meio a esse caos repleto de dúvidas, Hannah ainda tem que lidar com o fato de que logo dará a luz a uma criança. 

É através dessa história cheia de altos e baixos que Mary entrega um enredo avassalador. O amor que nasce e cresce entre Hannah e Gabriel parece suportar tudo até que as dúvidas e as mentiras começam a ganhar força no meio dos dois. Ao passo que Mary nos apresenta esse dilema entre o casal, ela também nos apresenta alguns capítulos em que podemos acompanhar May desde o momento em que saiu de casa até o momento em que tudo em sua nova vida deu errado. 

O ponto principal desse enredo é o modo como a autora conseguiu passar com maestria as nuances das personalidades de cada personagem. Hannah, Gabriel, May e todas as outras pessoas as quais o leitor é apresentado demonstra qualidades e defeitos que quase parecem palpáveis. A intensidade nas palavras e nos atos de cada um são de tirar o fôlego e por isso compensam os momentos em que a narrativa parece desacelerar ao ponto de a leitura ficar ligeiramente entediante. Por apresentar muitos elementos de um dia a dia pacato quando fala sobe Hannah e Gabriel, a autora acaba por incrementar demais nesse contexto e faz com que a história se delongue muito.

Contudo, o ritmo das páginas finais consegue fazer o coração acelerar de modo que qualquer pessoa se sente na obrigação de correr com a leitura para descobrir o que afinal aconteceu nos meses em que Hannah e May ficaram sem se comunicar e qual foi o final de Gabriel e Hannah. Emocionante e sufocante são as palavras que melhor definem os últimos parágrafos que contam a história das irmãs Powers e o homem que passou pela vida das duas deixando uma marca inesquecível. 

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