“O Retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde

Por Daniel Paes da Silva

O Retrato de Dorian Gray é um romance escrito por Oscar Wilde e publicado em 20 de junho de 1890. O livro trata sobre a vida de um homem que, de forma indireta, acaba fazendo um pacto para permanecer com a aparência jovem para sempre. Apesar dessa vantagem, uma pintura do protagonista feita por um de seus amigos acaba manifestando em sua aparência todas as imperfeições da alma de Dorian Gray. Portanto, o personagem principal é uma figura que permanece bonita na sua superfície, mas esconde a feiúra do seu interior em uma pintura guardada cuidadosamente por ele.

 A partir dessa premissa, o enredo do romance almeja retratar a superficialidade da sociedade vitoriana, onde tudo aquilo que importa são as aparências. Os indivíduos sempre precisam esconder profundamente partes deles mesmos para poderem se encaixar nos bons costumes das convenções sociais da época, fazendo com que a vida pareça uma peça de teatro onde o indivíduo apenas interpreta um personagem.

Dorian Gray é um indivíduo que reflete bem essa visão difundida nas convenções sociais. Para ele, a beleza é o que há de mais importante em sua vida. Ele não se interessa pela beleza de seu caráter, pois isso é algo intangível que não pode ser visto. Ele é como uma pessoa em uma livraria que julga o livro pela sua capa, sem se importar com o conteúdo que uma edição luxuosa pode oferecer para o leitor.

Toda essa temática do livro continua atual e traz reflexões muito profundas sobre como percebemos o mundo ao nosso redor, pois todos já criamos juízos de valor usando como base critérios estéticos.  Se basear em traços físicos na hora de decidir com quem irá se relacionar de forma amorosa, abrir mão de um quadrinho por achar o traço do desenho feio, usar uma roupa menos confortável porque ela é mais bonita. Estamos constantemente baseando nossas escolhas a partir da aparência, mas será que realmente isso importa de verdade? De que adianta ter a beleza de Dorian Gray, mas também possuir a sua maldade? Como seria o mundo se nós levássemos mais em conta o interior do que o exterior? Esses questionamentos não têm nenhuma resposta, no entanto, são levantados de forma magistral pelo romance de Wilde.

Além de toda essa profundidade temática, o livro também é muito corajoso para sua época, pois apresenta diversas insinuações homoafetivas durante o decorrer da narrativa. Tais indícios de homossexualidade em sua obra podem parecer muito sutis para os dias de hoje, mas eram extremamente subversivos para a sua época. Tão subversivos que passagens do livro foram usadas contra o próprio autor na hora de o condenarem por indecência pelo simples motivo que ele se relacionava com uma pessoa do mesmo sexo. Esse evento trágico que destruiu a vida e carreira do autor só mostra o quanto a humanidade utiliza de julgamentos rasos na hora de criar uma percepção negativa ou positiva de alguém. Nada que o Oscar Wilde poderia oferecer para a humanidade era relevante no momento do julgamento. Tudo aquilo que importava era apenas o fato de que ele dormia com outro homem. Uma visão tão básica de uma pessoa vindo de uma espécie tão básica em pensamento como a humanidade.

Portanto, O Retrato de Dorian Gray é uma obra que continua muito atual e nos convida a pensar sobre nossas próprias convicções. Sempre será difícil não levar em conta as aparências em um mundo onde os estímulos visuais são os primeiros elementos que nós captamos do mundo ao nosso redor, mas talvez deveríamos considerar mais os conteúdos e as mensagens que as coisas nos proporcionam. Como já dizia o romance O Pequeno Príncipe: O essencial é invisível aos olhos.

1 thought on ““O Retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *