“Grande Sertão: Veredas”, Guimarães Rosa

Por Vitor da Hora

Grande Sertão: Veredas é um romance modernista de autoria do escritor mineiro João Guimarães Rosa, publicado originalmente em 1956 pela Editora José Olympio. Guimarães Rosa nasceu em 1908 no município de Cordisburgo, em Minas Gerais, sendo o primeiro de seis filhos. Ainda criança iniciou seus estudos em Belo Horizonte, indo morar com os avós, sendo patrocinado por um abastado tio latifundiário. Em 1925 ingressou na faculdade de medicina da Universidade de Minas Gerais, formou-se e exerceu brevemente a profissão – inclusive sendo médico-voluntário durante a Revolução Constitucionalista de 1932 – migrando depois para a carreira diplomática no final da década de 1930, visto que desde a infância demonstrava fascínio em aprender diversos idiomas e tornou-se um poliglota. Foi casado duas vezes: primeiramente com Lígia Cabral Pena em 1930, com quem teve duas filhas, Vilma e Agnes; e a segunda vez com Aracy de Carvalho, também diplomata, conhecida por sua participação na ajuda em refugiar judeus alemães durante a II Guerra e o Holocausto – história de bravura que recentemente inspirou a minissérie Passaporte para liberdade da TV Globo. Guimarães Rosa foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras em 1963 por unanimidade, tomando posse de sua cadeira apenas em 1967, três dias antes de falecer. Vencedor e indicado a vários prêmios literários, o autor é lembrado como um dos principais alicerces da terceira geração do modernismo brasileiro na literatura. 

Grande Sertão é tida como sua obra-prima, sendo um dos livros mais prestigiados da literatura nacional e do século XX. A trama, como indica o título, é ambientado no sertão brasileiro embora sua localidade exata não seja mencionada, provavelmente sendo algum lugar entre o Sul da Bahia e o Norte de Minas Gerais pertencente à região geoeconômica do Nordeste. A narrativa do livro é composta pelos relatos do jagunço Riobaldo: que discorre sobre questões existenciais e religiosas que lhe afligem, seu envolvimento com as disputas e guerras entre as distintas facções de jagunços locais e seu conflitante relacionamento com Reinaldo – identidade masculina falsa adotada por Diadorim, para adentrar no mundo da jagunçagem.

Adotando uma escrita experimental, o livro é marcado pela ausência de capítulos, o que pode dificultar a leitura para alguns – ainda mais se tratando de um livro extenso, originalmente com mais de seiscentas páginas. Grande Sertão, classificado como um expoente da terceira geração do modernismo brasileiro, busca inspiração nas gerações anteriores, como o regionalismo da segunda fase e o experimentalismo da primeira. A trama carrega consigo uma forte dimensão política representada nos latifundiários e políticos demagogos – materializados nas personagens como Ricardão e Zé Bebelo, respectivamente – tratando sobre o atraso sócio-econômico decorrente da dominação exercida por essas figuras nas regiões remotas do país, que enriquecem às custas da exploração e miséria que sofre a população mais pobre; também, abordando a brutalidade e a violência do Brasil sertanejo e rural, resultado direto da desassistência dos donos do poder a estas regiões – por este motivo, dentre vários outros, torna-se uma leitura indispensável para compreender a formação social brasileira.

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