“De volta aos quinze” de Bruna Vieira

Releituras na Quarentena

Por Débora Ximenes

“Passamos a vida inteira assim, nos adaptando ao mundo. Acumulando pessoas e histórias  que um dia vamos contar para alguém. Mas, e se, por um segundo, pudéssemos fazer o caminho inverso? Ler nossa própria história e escrevê-la novamente? Ontem, com a cabeça de hoje. Será que isso resolveria?”

 – Bruna Vieira (Prólogo)

O romance “De volta aos quinze” se passa em 2015 e conta a história de Anita: uma mulher de 30 anos, ruiva, tímida, nascida no interior de Minas Gerais e residente de São Paulo. Sua vida não está das melhores… Um emprego mediano como secretária – o qual ela não exerce plenamente o que aprendeu na faculdade de Administração – e sem um apartamento para viver, Anita está frustrada consigo e com tudo ao seu redor.

A narrativa começa com a protagonista indo ao casamento de sua irmã Luiza – o casamento dos sonhos. Essa cerimônia torna-se para Anita um grande reencontro de familiares, amigos e sentimentos que estavam guardados há muito tempo.  Constantemente, a personagem se compara com outros familiares ou se deprecia revelando que possui muitas emoções e traumas guardados. Ao reencontrar seu melhor amigo da faculdade, Henrique, Anita transporta-se para o período em que o conheceu, reavivando os sonhos que ambos tinham quando mais jovens.

Porém, Anita acaba causando uma confusão ao tentar ajudar sua prima Carol a sair do relacionamento abusivo que possui com seu marido. Anita confronta Eduardo, marido de sua prima, e acaba sendo vista como “doida” pelos convidados, mesmo tendo provas das agressões que Carol sofria. Infelizmente, sua atitude gera um grande mal-estar com sua família e com todos na festa e a protagonista acaba desmaiando. Ao acordar em seu quarto no hotel, a personagem percebe o quanto está cansada e perdida. Anita só não esperava que fosse receber um e-mail com o link do seu antigo blog criado aos seus 15 anos:

“Quando li o título do texto, meu coração bateu forte. Pois as emoções daquela época voltaram, e por instantes me esqueci de tudo o que havia acontecido: aquele era o blog que eu havia feito na minha adolescência.”

Ao ler o título da sua primeira e única publicação, Anita começa a sentir-se mal, tudo gira e muda a sua volta. Em questões de segundos, a personagem volta para o dia exato da criação do seu antigo blog: 06 de Fevereiro de 2000. A partir disso começa o grande enredo do romance – viagem no tempo – e a pergunta que trilha toda a narrativa: será que se você tivesse a oportunidade de voltar no tempo, isso seria o bastante para melhorar sua vida?

Saindo um pouco da narrativa do livro, noto que há algumas semelhanças entre a personagem e a escritora. A autora Bruna Vieira nasceu em Leopoldina, interior de Minas Gerais, e aos 15 anos começou a escrever em um blog, “Depois dos quinze”, sobre suas desilusões amorosas na adolescência entre outros temas. Aos poucos, foi conquistando o seu espaço na internet como influenciadora digital, blogueira (no sentido original da palavra: aquela que possui um blog) e escritora.

Bruna sempre foi uma pessoa tímida e introvertida desde criança, mas essas características ficaram cada vez mais fortes devido ao bullying que sofreu por conta do seu estrabismo. Isso resultou em uma grande exclusão social e solidão na adolescência, mas também a escritora encontrou refúgio nos livros e em seus desabafos no blog. Só quando adulta ela percebeu que a timidez e a introversão não eram coisas ruins, e sim parte dela: a sua introversão a fazia ver e entender mais as pessoas a sua volta. Particularmente, percebo que isso é um erro muito comum: lidar com características que te fazem único, como algo ruim. Torna-se libertador quando você se aceita e enxerga suas qualidades. Em seu podcast, Bruna fala um pouco mais sobre esses assuntos: timidez, auto-aceitação, inteligência emocional e afins.

Retornando ao questionamento do início: seria suficiente mudar o seu passado, com a mentalidade do presente, para melhorar seu futuro? Penso que quem deseja mudar o passado, ainda não conseguiu entendê-lo e nem compreender a vida. Tudo que acontece nela tem um propósito, um aprendizado: até as piores situações. Talvez você não consiga enxergar com seus olhos de agora, mas é porque você não possui a visão panorâmica da sua vida. E creio que essa é a graça dela: a surpresa e o inesperado. A forma como você lida com seu passado diz muito sobre seu hoje. Por isso, trago a minha memória este trecho que li em um livro do C.S Lewis (“Cristianismo Puro e Simples”):

“Mas o progresso significa chegar mais perto de onde você deseja estar; contudo, se você tomou um atalho errado, então seguir em frente não vai levá-lo para mais perto. Se você estiver no caminho errado, o progresso significará dar meia-volta e retornar ao caminho certo; e, nesse caso, a pessoa que voltar atrás mais rápido será também a mais progressista.”

Por fim, se você precisa resolver algo do seu passado, resolva agora. Hoje. Porque o passado já se tornou memória e não há mais como mudá-lo. Mas pode-se mudar a forma como  você o encara hoje. Segue mais um trecho do livro “De volta aos quinze”:

“Acho que todos os problemas são assim. Quando você decide parar de pensar neles o tempo todo, e tenta resolvê-los, eles nem parecem mais tão assustadores. Porque nós é que complicamos tudo. O tempo todo.”

Conheça os outros livros e conteúdos da escritora em: https://linktr.ee/depoisdosquinze

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