Por Julia Hurel
Um livro nacional com escrita simples e uma temática muito relevante que, apesar de não ser inédita, realiza uma outra abordagem às doenças mentais de forma a procurar a desestigmatização de tais. A história se passa numa cidade fictícia a qual é um retrato fidedigno de uma sociedade intolerante contemporânea.
Tudo começa com um grupo de terapia para jovens com esquizofrenia, dali, surgem amizades duradouras que levaram à criação do clube dos amigos (imaginários). Narrada pelo ponto de vista dos amigos imaginários dos dois protagonistas, imprime-se um toque de criatividade e personalidade à obra. É uma leitura bastante atual pela forma como trata de assuntos como conflitos da adolescência, o primeiro amor, bullying, saúde mental e pais abusivos; justamente inseridos na era digital.
Além disso, possui um alto enfoque na dissecação da “psicofobia” – que define-se como o pavor ou repudia à transtornos mentais e também à ajuda psicológica – pois está enraizada tanto na cidadezinha onde se passa essa história quanto na vida real. A criação do clube está diretamente relacionada à própria violência que esses jovens sofrem em casa, assim, procuram conforto e afeto nessas reuniões com os amigos que estão passando pelos mesmo problemas.
Ao desenrolar da obra, vemos que algo grande está por vir, entretanto, nunca é explicitado e, enquanto isso, os personagens principais continuam tentando fugir da realidade impiedosa em qual vivem. Criam laços cada vez mais profundos e planejam o que querem fazer no futuro, todos visam aprender a lidar da melhor forma com a saúde mental e com as vozes que os perseguem.
O livro possui um desfecho avassalador e cruel apesar de, ao mesmo tempo, conseguir sustentar o carisma desenvolvido ao decorrer da narrativa e ser coerente a ponto de tornar-se um pouco previsível, o que não necessariamente implica em algo ruim. Pelo contrário, essa antecipação tornou a leitura muito mais dinâmica pelo fato de instigar a vontade de ler pelo menos mais um capítulo, que acabam tornando-se vários. Por fim, considero uma leitura divertida e também um pouco pesada devido à sensibilidade dos temas retratados, porém acredito que muitos jovens gostariam bastante.