Por Ana Clara Tapajós Pinto
Muitos têm medo da morte, a enxergam como o fim de tudo e preferem não pensar a respeito e, por ignorar isso, vivem como se tivessem todo o tempo do mundo e nada de ruim pudesse acontecer para mudar isso. Entretanto, o que você faria se soubesse que iria morrer dentro de 24 horas? E pior, o que faria se soubesse que morreria prematuramente ainda tão jovem, sem poder escapar dar garras do destino?
Essa é a trama vivida pelos protagonistas Rufus e Mateo no livro “Os dois morrem no final”. Em uma sociedade em que existe a Central da Morte ninguém mais morre sem se despedir, as pessoas passaram a estar presentes em seus funerais pois, mesmo não sabendo a hora que iriam morrer, sabiam que após a ligação da central da morte, que ocorria entre meia noite e três da manhã, iriam falecer dentro de 24 horas. Poderia ser em uma hora ou no último segundo do dia, mas uma coisa era certa: a Central da Morte nunca erra.
Após receber sua ligação nas primeiras horas da madrugada, Mateo, um jovem de apenas dezoito anos que quase não viveu sua vida, se desespera. Sabia que precisava sair de casa e aproveitar seu último dia, mas se perguntava por que sairia para um mundo que o mataria? Sempre com medo de se aventurar e acabar se machucar, deixou de viver seu tempo e, agora que já não restava muito, se arrependeu amargamente. Rufus, por outro lado, também tinha seus arrependimentos, mas, após a perda de toda a sua família, estava mais resiliente ao seu destino. Essas duas pessoas tão diferentes se encontram através do aplicativo “Último Amigo” e decidem passar seu dia final juntos, sem saber que um era tudo o que o outro precisava naquele momento. Mesmo com a angústia de saber que vão morrer, mas sem saber quando e como, ambos decidem se aventurar e se permitir viver aquele último dia.
Além da trama principal, algo que me chamou muita atenção são as pequenas histórias que vão se cruzando ao longo do livro: a insensível Andrea, funcionária da Central da Morte que liga para as pessoas avisando-as de seus últimos momentos; Delilah, a doce editora que não acreditava em seu destino; e muitas outras vidas que apareceram rapidamente na de Rufus e Mateo mas que depois ganhavam a narração, formando uma incrível rede de conexão ao longo do livro mostrando que, mesmo que uma pessoa apenas faça pontinha na sua história, ela é a protagonista da dela.
Esse livro, apesar de tratar sobre um tema tão sombrio, tem seus momentos de descontração. Além disso, você se apega aos personagens e torce para que eles sejam a exceção, se apaixona por eles e com eles, vive intensamente seus últimos momentos enquanto deseja arduamente que tenham mais tempo. É um livro lindo, muito sensível e, com um pouco de ousadia, acredito que poderia ser dado um outro título a ele: “Os dois viveram antes de morrer”.
“Os dois morrem no final” é um livro que, apesar do título sugestivo, faz uma exaltação a vida. O escritor Adam Silveira teve uma enorme delicadeza ao tratar de um assunto tão difícil e, por vezes, doloroso que é a morte prematura, expressando bem a essência do livro: fazer as pessoas se lembrarem que não têm todo o tempo do mundo e cada segundo conta. Por que deixar de fazer algo por medo de tentar? Por que está deixando a insegurança e medo te impedir de realmente viver? Esse livro me fez perceber que estar vivo é muito mais do que apenas permanecer respirando. Com frases fortes, feitas para chocar e te fazer refletir, “Os dois morrem no final” é uma leitura que deveria ser obrigatória para todos.
“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”
Oscar Wilde