Por Daniel Paes da Silva
Madame Bovary é um romance escrito pelo autor francês Gustave Flaubert e lançado inicialmente em 1856. A trama acompanha a história de Emma Bovary, uma mulher charmosa e requintada que se casa com um médico denominado Charles. A vida pacata e tranquila da personagem não a satisfaz, pois ela viveu a sua vida inteira lendo uma literatura mais sentimental, fazendo com que ela colocasse as suas expectativas em um patamar muito romântico que nunca se concretizava na realidade. A romantização da vida real faz com que a protagonista se decepcione mais com a sua existência, criando uma amargura que só cresce durante a trama.
O romance de Flaubert demonstra o quanto as ambições podem trabalhar contra nós. Muitas vezes criamos altas expectativas para as nossas vidas e ficamos insatisfeitos com os resultados. Não há nenhum problema no desejo, que é o fogo que acende as nossas almas, mas é prudente que as nossas vontades sejam administradas com cautela. Os desejos precisam ser pautados pela realidade. Nos afundamos em nossa própria amargura quando almejamos algo fora de nosso alcance. Emma sofre justamente por não levar em conta este aspecto. Tudo aquilo que ela almeja para a sua vida tem como base a literatura, que não é real. Apesar de toda obra ter um certo nível de realismo, não é saudável acreditar que uma narrativa completamente arquitetada para provocar sentimentos específicos é a melhor forma de basear a sua visão de mundo. A vida real é imprevisível e flutua constantemente de tom. A realidade é uma comédia ao mesmo tempo que é uma tragédia, otimista e pessimista, bela e feia. Não é possível encarar o mundo com um filtro romântico.
Flaubert demonstra de forma brilhante uma das coisas mais difíceis de se aceitar na vida: ela é sem graça. Podemos fazer o que for necessário para que nossas existências sejam empolgantes e cheias de aventuras, mas no fundo sempre irá existir um marasmo que aflige a vivência de qualquer um. No fim das contas, nossas experiências não conseguem ser tão interessantes quanto os filmes que assistimos ou os livros que lemos. Talvez seja esse o motivo que nos atraia para a ficção. Estamos tentando preencher um vazio através de aventuras inexistentes. Nos teletransportamos para mundos que parecem mais interessantes do que o nosso.
Portanto, Madame Bovary é uma leitura muito melancólica sobre o tédio que é a vida. A forma como a obra nos provoca uma reflexão sobre a maneira que levamos nossas vidas é arrebatadora e imprescindível para qualquer amante da literatura.
Excelente resenha, instiga-nos a ler o romance com um olhar perscrutador, realista sem o véu do romantismo.
Parabéns Daniel Paes.