Série: “The Midnight Gospel”, Pendleton Ward e Duncan Trussel

Por Thales Faria

“The Midnight Gospel” é uma série animada da plataforma de streaming Netflix. A série é baseada no podcast de Duncan Trussell (que dá voz ao personagem principal), “The Duncan Trussell Family Hour”, que aborda uma gama de histórias e reflexões diferentes. A animação é apresentada pela ótica de Clancy, um aventureiro que mora em um trailer e é apaixonado por conhecer novos lugares e pessoas. Dessa forma, Clancy utiliza o que é chamado de “simulador”, uma espécie de máquina de teletransporte, para conhecer novos planetas em diferentes universos. Porém, ao longo dos episódios, a quantidade de planetas vai diminuindo, pois a maioria (ou todos) estão em estado apocalíptico. Isso é uma grande simbologia para as temáticas abordadas na série.

Falando mais sobre essas temáticas, a animação tem uma pegada bastante filosófica e existencialista, que busca trazer uma reflexão sobre o sentido da vida, ou se sequer há um sentido nela, de forma que nos envolve com assuntos profundos e um design de animação psicodélico que nos faz viajar junto com os personagens. Em cada episódio, quando Clancy vai a um novo planeta, ele encontra alguém para entrevistar para seu videocast, ou, como ele gosta de chamar, “Spacecast”. Nessas entrevistas, sempre há um tema principal, como debates sobre o uso de drogas ou a perda de entes queridos (um tema recorrente durante a temporada). Esses assuntos são usados de forma sutil para trazer questões sobre como viver, como lidar com crises existenciais ou como viver no momento presente, sem se amarrar ao passado ou a um futuro incerto.

Ainda, “The Midnight Gospel” nos apresenta a prática de mindfulness, abordada em diversos episódios, que significa ‘atenção plena’. Essa é uma das práticas da meditação, que envolve dar atenção a todas as sensações do corpo, focando no agora e dando espaço para todos os sentimentos. Além disso, conversar com um dos grandes significados da série é também uma prática presente em conceitos budistas. As ideias budistas estão explicitamente presentes na série, pois o budismo ensina que a única coisa que temos é o aqui e o agora e, portanto, concentrar-se no presente é o melhor caminho para a felicidade e para a paz. Outro ensinamento que consigo ver é sobre saber viver com o pouco e ter gratidão pelo que a vida te proporciona. O 3º episódio é um bom exemplo disso, pois o personagem Darryl diz que se sente grato pelo tempo que passou na prisão e não mudaria nada, pois foi necessário para o seu aprendizado.

Nas palavras de Clancy: “Isso (a morte) não é um sentimento desejável, mas é um sentimento que todo ser humano vai vivenciar”. Dessa forma, “The Midnight Gospel” faz um ótimo trabalho ao trazer reflexões sobre o ‘meio-termo’ da vida, sobre a dor e o sofrimento que é viver, tendo que conviver com a ansiedade de não saber qual é o propósito da vida e qual é a nossa missão. Além disso, a série traz a grande questão da vida e da morte, o início e o fim, e como é algo que não há como burlar, apenas aprender a conviver, eliminando pré-conceitos sobre o que e como vai acontecer. Caso contrário, nunca seremos capazes de criar nossos próprios conceitos.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *