Por Mario Henrique do Amparo Pereira
Em “Os dois morrem no final”, publicado em 2017, o autor Adam Silvera entrega no título exatamente o que vai acontecer na obra. Mas isso está muito longe de estragar a experiência de leitura.
O livro se passa em um mundo parecido com o nosso, mas com uma importante diferença: há uma organização chamada “Central da Morte”, que telefona às pessoas que vão morrer nas próximas vinte e quatro horas para avisá-las do fato. Mateo e Rufus, os protagonistas, recebem essa triste notícia. Os dois, que se tornam “Terminantes”, se conhecem através do aplicativo “Último Amigo”, criado especialmente para quem busca companhia nesse momento difícil. Eles, jovens e perfeitamente saudáveis, atravessam o último dia de suas vidas juntos.
Apesar disso, não se trata simplesmente de uma obra sobre a morte. Também há uma grande celebração à vida, a cada valioso instante do “Dia Final”. Mateo e Rufus, tão diferentes entre si, complementam e completam os destinos um do outro. Eles se ajudam ao longo de toda a história para que cada um lide com suas próprias questões.
É impossível passar por um livro como esse sem se emocionar e refletir sobre a própria existência, o passado mal aproveitado e sobre o futuro, que pode nunca chegar. Logo no primeiro capítulo, Mateo pensa sobre todas essas questões; ele diz que sentirá falta principalmente de quem ele nunca conseguiu se tornar. Mas nem tudo está perdido, como é perceptível ao longo das páginas. Paralelamente, Rufus, que já passou por tantas perdas e transformações, se vê em uma situação extrema. Por conta disso, acaba sozinho em seu dia derradeiro e decide conhecer alguém pelo já citado aplicativo. Mateo, também sem companhia, toma a mesma decisão.
Já saber o que vai ocorrer ao fim da história não diminui o acontecimento. Na verdade, é um combustível para que o leitor se apegue ainda mais a personagens tão bem construídos, tão palpáveis. E por mais que o tempo da narrativa seja num período de menos de um dia, é como se as vidas inteiras deles estivessem passando diante dos olhos de quem lê. A apreensão é constante, além da inevitável expectativa de que eles sobrevivam ao final; porém, também é inevitável o destino reservado a Rufus e Mateo.
O livro é marcado por fins, mas também por começos; e não apenas por despedidas, porque há encontros que mudam vidas inteiras. Grandes tristezas só existem porque também há alegrias ainda maiores. A obra provoca as mais diversas sensações ao longo das páginas. E mesmo com um final doloroso, a jornada dos jovens é imortalizada. Foi o último dia, mas foi grandioso.