Por Izabel Maria
Nesta narrativa, o famoso detetive Hercule Poirot recebe uma breve carta anônima na qual diz que ele deve estar atento a Andover, no dia 21, dando a entender que um possível crime aconteceria neste local e data. O remetente ainda alega que nem mesmo o genial detetive seria capaz de desvendar tal caso. Por fim, o autor se identifica apenas como “ABC”. Apesar da origem duvidosa da carta e das autoridades locais desacreditarem da veracidade da mensagem, algo no interior do detetive o induz a pensar que o escrito trata-se de algo sério e não apenas de um trote qualquer.
De fato, o crime acontece fazendo vítima uma idosa de sobrenome Archer, porém, quando uma segunda carta é recebida contendo outro local e data de mais um crime que posteriormente também ocorre, percebe-se que o caso anterior não é isolado e sim parte de um sistema ainda mais sombrio: Assassinatos em série, onde as vítimas e as localizações são escolhidas por ordem alfabética. Assim, Poirot e o capitão Arthur Hastings – amigo e companheiro na resolução deste caso – iniciam uma corrida contra o tempo em busca do assassino a fim de evitar a morte das próximas vítimas da lista.
O primeiro capítulo já é suficiente para deixar o leitor em estado de empolgação e curiosidade para o desenrolar do enredo. A escrita de Agatha Christie é simples, sem deixar de ser maravilhosa, o que torna a leitura fácil e instigante. A química entre os dois amigos (Hercule e Arthur) é cativante, particularmente gostei bastante dessa dupla, inclusive o livro é narrado em grande parte pelo ponto de vista do capitão, entretanto, em breves capítulos podemos conhecer uma narrativa à parte, que relata o ponto de vista de um personagem misterioso, sem de fato sabermos de quem se trata.
Além disso, a autora sabe bem como utilizar a descrição dos detalhes, fazendo com que o leitor se sinta presente em cada cena relatada. Outro ponto que a autora domina com maestria é proporcionar momentos cômicos na hora certa, capazes de nos fazer dar sorrisos enquanto lemos, sem deixar de lado a tensão e o suspense, que cativam o nosso interesse do início ao fim. O livro tem um final surpreendente e testemunha novamente a genialidade de Agatha Christie.
” – Poirot – falei enquanto caminhávamos à margem do rio. – Esse crime certamente pode ser impedido, não pode?
Ele voltou o rosto abatido para mim.
– A sanidade de uma cidade cheia de homens contra a insanidade de um só homem? Tenho medo, Hastings…tenho muito medo. Lembre-se do sucesso duradouro de Jack, o Estripador.
– Um horror – comentei.
– A loucura, Hastings, é terrível… eu tenho medo…Tenho muito, muito medo… ”
(Os crimes ABC, Agatha Christie)
Ilustração por Felipe Marques, disponível em “Banco de ilustrações” do Projeto Torre de Babel.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)