Resenha por Luiza Tavares
Releituras na Quarentena
Se você pensou que era o Seminarista de Rubem Fonseca, eu não o julgo, pois já cometi a mesma confusão.
Conheci O Seminarista de Bernardo Guimarães no vestibular, no ano em que o livro escolhido foi o de Rubem Fonseca, porém eu me enganei e baixei o romance achando que só tinha um livro com o título de Seminarista no mundo.
Foi o melhor engano que já fiz na vida e, por isso, para dissertar sobra a obra eu farei um paralelismo entre os dois logo após contar as informações acerca da obra.
Romance rápido, de 75 páginas divididas em 24 capítulos. Ela pode ser baixada em PDF de graça pelo site domínio público por este link: O Seminarista (dominiopublico.gov.br)
Caso você, leitor, já conheça o de Rubem, saber que Bernardo também tem uma obra de mesmo nome pode causar surpresa, afinal, nem todos conhecem as outras obras dele além da Escrava Isaura, cuja fama apagou os outros romances, embora no seu tempo, 1872, ela tenha sido a mais bem aceita pelas críticas.
Em função de reacender o brilho da obra, afirmo que minha experiência com ela foi intensamente interessante porque essa obra é ótima para identificar e aprender as características do Romantismo, ainda mais em contraste com o Seminarista de Rubem Fonseca, o qual li concomitantemente.
A história segue em narrador-observador com aspetos regionalistas logo no início e o protagonista é Eugênio, um menino que vivencia um romance platônico desde pequeno por Margarida, que vivia na fazenda da família dele.
Os pais de Eugênio queriam que ele entrasse no seminário para se tornar padre. Ele sai da fazenda para se ordenar, forçado, porém ele não abandona o amor que tem por Margarida, mesmo longe dela. É onde a trama começa.
Na tentativa de obedecer ao desejo dos pais e lutar pelo seu amor, o personagem convive um contínuo sofrimento, entre fazer o que lhe é socialmente esperado e o que seu coração pede ele não consegue ser ele mesmo – o qual é o primeiro ponto de conexão que se pode estabelecer entre os Seminaristas.
Um pequeno ponto que se pode fazer também é que, em ambas obras, os protagonistas iniciaram a vida de seminaristas por vontade alheia. É sempre alguém estipulando o que eles devem ser, passando acima da felicidade deles e sem se preocupar com suas vontades. Quando eles falham em cumprir a expectativa, eles se encontram perdidos em sua própria miséria, vivendo uma vida reclusa e melancólica, seja de padre ou de assassino de aluguel.
Por esta razão, o livro foi bem aceito pela crítica. Na época, o livro fez uma crítica social ao autoritarismo das famílias, do celibato clerical e do patriarcalismo no momento história que se debatia a Questão Religiosa.
Por fim, a última conexão que vejo estabelecida entre os dois ocorre justamente nas partes finais: a morte. As mortes que acontecem neles transformam profundamente os rumos dos protagonistas, condenando-os às condições que foram impostas a eles desde o início.
Preciso ressaltar que a morte e a morbidez, no Romantismo, são aspectos extremamente presentes! Não apenas no sentido de perda dos sentidos físicos e da decomposição do corpo, mas no sentido da morte da pessoa como indivíduo, da sua felicidade – ressaltados pelo sentimentalismo no caso de Bernardo Guimarães – enquanto a morbidez se encontre mais no de Rubem Fonseca.
Foi-me uma experiência emocionante ler até o final e – com essa resenha -somente me admiro mais com as obras, pois finalmente percebo a grande semelhança entre texto tão diferentes. Faz-se claro que a infelicidade sempre mata da mesma forma.
Muito interessante o comparativo entre as obras.