Por Noelia Alejandra I.P.
Esta grande curta obra de Saint-Exupéry trata dos mais recônditos e fundamentais aspectos da vida, simbólica porém assertiva e inteiramente. Através da aproximação estabelecida pelo eu-lírico com o seu principal público-alvo (infantil), o autor logra transmitir a mensagem central, por meio de uma linguagem simples e digerível. Narrada em 1ª pessoa do singular, a fábula infantil é iniciada com uma anedota marcante para o eu-lírico, correspondente à sua época de infância. Neste episódio, o eu-lírico descreve o processo de elaboração de seu primeiro desenho, destacando a incompreensão dos adultos (“pessoas grandes”) com a simplicidade de uma figura.
Mais adiante, o narrador torna-se um piloto e, numa de suas viagens, faz um pouso de emergência, em um lugar incerto (no deserto do Saara) e isolado de qualquer sinal da civilização. A história contada a partir de então ocorre 6 anos antes do momento de narração. O piloto, ainda desnorteado quanto à sua localização, conhece um menino de cabelos loiros que lhe pede o desenho de um carneiro. Atônito, ao não conseguir explicações sobre como o menino chegou ao seu lado, o narrador atende o pedido daquele e se surpreende ainda mais quando o menino aceita o desenho mais básico.
Logo, o piloto engaja em intrigantes diálogos que permitem a visualização e contato com a simplicidade e inocência da juventude; a mesma que nos instiga a sonhar e vislumbrar os sentimentos mais puros e virtuosos (como o amor). Alegando ser de outro planeta, o Pequeno Príncipe (assim nomeado pelo piloto) compartilha suas aventuras passadas em diversos planetas, suas insaciáveis inquietudes e diálogos imbuídos de metáforas que abordam questões filosóficas. Desse modo, o Pequeno Príncipe torna-se o protagonista da história, ao longo do livro. Saint-Exupéry consegue, implicitamente, colocar críticas substanciais a problemas que transcendem as circunstâncias da época em que o livro foi escrito. Entre elas, encontram-se a vaidade, o vício, a ambição, o materialismo, etc.
Nas suas viagens, o pequeno príncipe conhece diferentes figuras: um rei, um vaidoso, um bêbado, um empresário (“contador de estrelas”), um lampião (que lhe interessou muito mais que os anteriores) e um geógrafo (que lhe aconselhou viajar à Terra, se quisesse explorar). Além disso, o Pequeno Príncipe passou um ano na Terra, perguntando e aprendendo anedotas da vida de alguns seres vivos (uma serpente, humanos, fez amizade com uma raposa), conheceu outras rosas – aparentemente iguais àquela que deixou esperando no seu planeta – e o piloto, ultimamente.
Através dos personagens encontrados na jornada do Pequeno Príncipe, Saint-Exupéry representa os motivos da infelicidade do homem e das mazelas do mundo, atribuindo-as ao envelhecimento e decomposição – não do corpo, mas do espírito. Mas, a principal mensagem do livro está nas palavras da raposa: “É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. […] Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” – instante este em que o Pequeno Príncipe entende e internaliza o conceito e valor do amor, do “cativar” alguém. Saint-Exupéry faz jus à ideia que envolve a história; o texto não disponibiliza detalhes (nomes, datas, noções de espaço), pois como citado no livro, os adultos são os que “têm sempre necessidade de explicações detalhadas”.
Logo, o que é contado depois somente segue a linha desse episódio. O piloto percebe que foi cativado e sofre ao ver a partida de seu amigo, quem ao se despedir reforça a ideia de que o corpo é efêmero (como lhe foi dito acerca de sua rosa), mas o sentimento se mantém.
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