“O mal nosso de cada dia”, Donald Ray Pollock

Por Maria Carolina de Souza

Ilustração por Luísa Rocha da Silva Alves.

O romance em questão, classificado como uma espécie de thriller psicológico, possui um clima pesado do início ao fim, com cenas fortes que podem marcar os leitores mais sensíveis. A escrita é dura, sem floreios ou sentimentalismos, e objetiva, deixando bem claras as imagens violentas e em nenhum momento romantizando-as.

Arvin, o protagonista, foi uma criança que passou por grandes dificuldades ao longo da sua vida e possui uma relação muito complicada com a religião. Ele viu o seu pai fazer de tudo, inclusive sacrifícios de seres vivos, para implorar pela vida de sua mãe, sem sucesso. Além disso, também viu a família de seus tios sofrer por conta de um líder religioso e perde o seu lar. Ademais, há outros personagens intrigantes na história, como um antigo cantor de música em igrejas, que se submetia a péssimas situações para convencer o público de sua fé, e um casal que comete assassinatos em série ao redor do país.

Para além do enredo, o instigante do livro é que o mal não se encontra em nenhum ser além dos próprios seres humanos, independentemente da aparência do coração de cada um. A construção dos personagens em pessoas complexas é para demonstrar a natureza dos indivíduos e nos levar a questionar as possibilidades de salvação para esse povo. Uma chave de leitura, portanto, está no próprio discurso religioso raso e hipócrita e as suas repercussões no caráter humano, que, sedento por redenção, toma atitudes que se afastam cada vez mais dela.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 

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