Letras & Música 7

Por João Pedro Mafalda Ribeiro

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Olho do Tigre

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A palavra “olho de tigre” pode ser entendida de diversas formas. No sentido literal, representa o olhar de um animal predador forte. Com isso, serviu de inspiração para a música “Eye of The Tiger” da banda Survivor na trilha sonora do clássico filme do lutador Rocky, muito popular nos anos 80, onde a letra fala sobre a luta de um homem que tem “olhos de tigre”, pois a luta é seu meio de fazer seus sonhos se realizarem e também de sobrevivência, tendo que ser um “predador” para enfrentar qualquer um que vier, sem medo. No entanto, “olho de tigre” também é um mineral encontrado na natureza, sendo considerado um talismã poderoso de proteção e força pessoal que neutraliza forças negativas e que emite uma energia boa para o ambiente em que ela estiver. 

Utilizando isso como inspiração, o rapper Djonga criou uma das músicas mais importantes do cenário atual do rap, e considerando a época em que foi lançada, é um dos hinos de resistência contra o governo opressor e aliada da luta antirracista. “Olho de Tigre”, lançado em 2018, é um single do cantor que rapidamente ganhou fama e continua popular até os dias de hoje. Com seu estilo informal e direto, Djonga faz uma crítica a sociedade brasileira, com versos agressivos que denunciam além do racismo, o machismo e o fascismo, e com isso o refrão da música se tornou uma frase que caracteriza luta e resistência: “Fogo nos racistas!”. 

A música já inicia dando um “chute na porta”. Logo no primeiro verso, Djonga canta: “Um boy branco me pediu um high five, confundi com Heil, Hitler”, fazendo uma alusão ao gesto de saudação que era utilizado na antiga Alemanha nazista, e que infelizmente ainda vemos com certa regularidade nos dias de hoje. No verso seguinte, ele faz uma crítica ao privilégio branco, ao dizer: “Quem tem minha cor, é ladrão/Quem tem a cor de Eric Clapton, é cleptomaníaco”. Aqui neste trecho, ele cita o músico Eric Clapton que fez declarações racistas em 1976, mas que por alegar ter sido ao consumo de drogas, não teve em nenhum momento sua carreira prejudicada. Dessa forma, Djonga expõe como o privilégio branco absolve os caucasianos ao dizer que quem tem sua cor, preto, é ladrão e é fortemente massacrado com todo tipo de repreensão, mas quando um branco rouba, sempre tentam amenizar a situação, usando muita das vezes alguma doença ou transtorno para “explicar” o

acontecimento. Ainda na mesma estrofe, Djonga tem como alvo um ex-deputado que até então tornou-se o atual ex-presidente da república, Jair Bolsonaro. Através disso, o rapper canta: “Na hora do julgamento, Deus é preto e brasileiro/E pra salvar o país, Cristo é um ex-militar/Que acha que mulher reunida é p****”, criticando assim o ex-deputado e sua legião de seguidores, que distorcem o discurso Cristão, utilizando-se dele para falar atrocidades. 

Nos versos seguintes, o rapper ressalta a luta antirracista ao cantar: “Não queremos ser o futuro, somos o presente/Na chamada a professora diz: Pantera Negra/Eu respondo: presente!”, referindo-se aos Panteras Negras, que foi um partido político norte-americano que surgiu nos EUA nos anos 60 com o intuito de lutar contra a violência policial sofrida pelos afro-americanos. Dessa forma, Djonga resgata o passado e nos mostra que esta luta ainda está presente até os dias atuais, convocando a atual juventude para se unirem nessa guerra contra o racismo. No decorrer da canção, Djonga faz uma homenagem ao cartunista Henfil ao citá-lo no verso: “Tô crítico igual cartoon do Henfil/Com esses Danilo Gentili eu não vou ser gentil”, fazendo uma crítica ao mesmo tempo ao “comediante” que ao longo de sua carreira já disse inúmeras falas e “piadas” racistas e segue tranquilamente na mídia, depois de um pedido de desculpas. Resgatando o que Djonga disse anteriormente sobre o privilégio branco. 

A entonação do refrão “fogo nos racistas” nos mostra um grito de guerra, de revolta, de dor e de um símbolo de resistência atual, que é uma característica das músicas de Djonga, cantar com uma entonação alta e agressiva, que transmite toda a emoção do rapper e que dialoga com a de seus ouvintes. Mais pra frente, Djonga faz uma analogia ao rap game, que é o cenário do rap. Ascendendo de maneira muito rápida e não esperando isso, o rapper sabe que hoje tomou conta do rap nacional contando suas próprias histórias, a de um jovem periférico sonhador, e isto está presente no trecho: “Não sei o que é rap game, deve ser mais um videogame que eu não pude ter”. 

No verso seguinte, ele faz uma denúncia aos crescentes indícios do fascismo e do machismo que vêm crescendo no Brasil e aparecendo abertamente nas grandes mídias e por figuras públicas do governo brasileiro, ao dizer: “Meio que tá no ar/Coisas que não se podem ver/Estranho” e também em outro verso ao dizer: “Olha eu olhando pros fascistas/Igual Floyd olhando pro McGregor/Se não entendeu o que eu tô falando/Eu devo tá falando grego, ó”, fazendo um alerta aos ouvintes sobre a ascensão de ideais fascistas e que deve ser percebido por todos. 

“Olho de Tigre” é uma música que aborda outros assuntos importantes, mas que se todos fossem descritos nesta resenha, ouvir a canção perderia a graça. Portanto, reserve

alguns minutos de seu dia para escutar este antigo, porém muito atual, hino de resistência e entender todos os problemas que são denunciados na letra. A partir daí, será possível entender por ser o tema principal das lutas atuais contra a opressão e a violência.

REFERÊNCIAS 

TV, PinneAppleStorm. Perfil #22 – Djonga – Olho de Tigre (Prod. Malive/Slim). YouTube, 25/07/2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0D84LFKiGbo&ab_channel=PineappleStormTV. Acesso em 11 nov. 2022. 

Faixa icônica: “Olho de Tigre” do Djonga. Genius Brasil, 2020. Disponível em: https://genius.com/Genius-brasil-faixa-iconica-olho-de-tigre-do-djonga-annotated. Acesso em 11 nov. 2022. 

Pedra Olho de Tigre e Seus Significados. Luhem, 2020. Disponível em: https://www.luhem.com.br/blogs/noticias/pedra-olho-de-tigre-e-seus-significados. Acesso em> 11 nov. 2022.

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