Filme: “O Menino Que Descobriu o Vento”

Por Claudete Ferreira

Em primeira análise, foi possível visualizar que a tentativa de sobreviver em um cenário deprimente fez com que William desenvolvesse habilidades para conseguir dinheiro, entre elas a capacidade de consertar máquinas e a dedicação para superar os desafios do cotidiano. A partir de sua dedicação, William buscou maneiras de estudar na biblioteca mesmo quando expulso da escola por conta da falta de pagamento das mensalidades. Devido a tal fator, nota-se que a escola não visava o bem-estar do aluno, mas sim a obtenção de dinheiro, visto que a maioria dos alunos não podia estudar após o entardecer para poupar o querosene do lampião que havia em casa. Dessa forma, é possível observar que os jovens menos favorecidos daquele ambiente tinham menos tempo para se dedicar aos estudos, obtendo menores notas e, consequentemente, não entrando em uma universidade. 

Na tentativa de encontrar formas para estudar, William analisou o que tinha no espaço que pudesse ser reaproveitado e que fosse alternativo ao querosene. No ambiente de estudos, ele se aproxima do professor para conseguir acesso aos livros da biblioteca, pois não possuía um passe livre devido ao não pagamento da sua mensalidade escolar. Ao adentrar na biblioteca, ele buscou aprender mais sobre o uso da energia e como ele poderia aproveitar o vento para gerar eletricidade à população que, na época, sofria com grandes secas e ataques antidemocráticos, que deixavam os cidadãos à mercê do caos, dificultando a obtenção de comida e o plantio, visto que eles passavam por uma crise alimentar após serem saqueados em suas próprias casas.

O negacionismo governamental gerou altos agravantes, sobretudo, à falta de comida e ao saqueamento das casas, que fazia o povo perder a pouca comida que lhes restava. O caso de desordem em todos os ambientes do filme possibilitou o evento de desonestidade, sobretudo no que diz respeito à irmã de William, que fugiu com seu professor, o que gerou um sentimento de desonra por parte dos pais. A fuga de sua irmã foi desencadeada após o menino pedir o dínamo da bicicleta do seu professor, utilizando tal objeto como pagamento do dote.

Após isso, o menino passou a traçar táticas para construir o moinho de vento e trazer a água para sua região, apesar de todos desacreditarem dessa invenção. Entre os amigos, ele montou uma mini maquete e mostrou como era possível ligar a bateria e recarregar todas as pilhas descarregadas, além de fazer o rádio funcionar sem pilhas. Diante de tamanha necessidade, o pai dele já estava desacreditado de que era possível tal invenção, levando o filho para a labuta após William o informar da necessidade de utilizar a bicicleta do pai para montar o moinho em tamanho real para extrair água do poço. 

Quando a população local chegou ao extremo, o pai de William liberou a bicicleta para seu filho realizar o projeto, dando uma chance de trazer a água para a região. Após a montagem, percebeu que o projeto havia dado certo. Assim, o filme se encerra com William ganhando uma bolsa de estudos graças ao seu projeto arquitetônico. 

Dessa forma, a ideia de William nos faz refletir que a busca pela realização dos sonhos não deve ser ofuscada pelas condições difíceis do ambiente onde o indivíduo vive e que, muitas vezes, não são reconhecidas pelos governantes. Assim, o menino de 14 anos nos mostra que melhor do que se lastimar pela situação é achar meios alternativos para solucionar o problema. Passando pelo pressuposto, o meu sonho de cursar minha faculdade realizou-se, analisando o lugar de que vim e como cheguei até aqui. O sonho foi o primeiro passo e a dedicação cotidiana permitiu que eu pudesse atualmente cursar Odontologia em uma universidade pública, sobretudo na lei de cotas, mostrando que toda dedicação valerá a pena para finalizar esse primeiro processo, podendo mudar a situação social da minha família.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)

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