Por Jully Mendes
“As pessoas mais próximas de nós são as que mais têm o poder de nos machucar”.
O livro “Eu te Darei o Sol” da autora Jandy Nelson narra a história de uma família ferida por segredos e ciúmes, marcada por uma tragédia que a afasta ainda mais. A história é apaixonante, marcante e aborda assuntos importantes a serem debatidos na nossa realidade, como bullying, traição, autoaceitação e homossexualidade.
Jandy Nelson chama atenção para o fato de que ninguém é perfeito: todos nós possuímos defeitos e segredos que preferimos não compartilhar. A trama é envolvida por conflitos reais e comuns que podem acontecer em qualquer família, e a autora conduz o enredo de forma a mostrar como podemos superar esses obstáculos por meio da compreensão, apoio e união.
Os personagens centrais da história são os gêmeos Noah e Jude. A narração possui uma relação passado-presente, pois é intercalada pelas perspectivas dos gêmeos em idades diferentes e em cada narrativa percebemos a personalidade peculiar que eles possuem. Noah conta a história no tempo passado, dos doze aos catorze anos. Seu ponto de vista é contado de forma inocente e agradável por um adolescente introvertido, talentoso e apaixonado pela arte que está começando a se conhecer e, por isso, conseguimos acompanhar os medos que estão muito presentes nesta fase. Já a narrativa de Jude se passa no tempo atual, quando ambos possuem dezesseis anos. Agora ela que é a artista e seu ponto de vista é apresentado a partir da tragédia que mudou completamente a família, e nela parece os irmãos trocam de personalidade: Noah passa a ser social e Jude fecha-se em si mesma.
Desde muito novos, os irmãos competem pela atenção e aprovação dos pais. Jude deseja que a mãe tenha com ela o mesmo cuidado que tem com Noah. Em contrapartida, Noah sente que não possui nenhuma ligação com o pai e que ele não o aprova pelos seus gostos diferentes. Entretanto, essas características e a competição pela afeição dos pais não interferem na forte ligação de amor e amizade que há entre os dois — não até ambos completarem catorze anos de idade, que é quando suas vidas mudam completamente e é rompida a conexão entre eles. Assim, como a autora expõe, os irmãos passam a percorrer caminhos opostos apesar de viverem juntos, e enfrentam obstáculos que não possuem coragem de expor um ao outro.
Esta forma de narrar através dos pontos de vista de cada um é interessante pois permite que conheçamos as inseguranças, sonhos e dúvidas dos personagens durante seu crescimento e ver que eles, assim como nós, não são perfeitos. Além disso, faz com que os leitores tenham curiosidade para encaixar os acontecimentos como um quebra-cabeças e compreender quais os segredos que os irmãos carregam consigo, o que motivou a ruptura de sua união a ponto de deixarem de se falar e chegarem até tal situação.
Essa é uma das histórias que me marcaram bastante. A ligação entre os irmãos me encanta e as temáticas abordadas são reais e inseridas no enredo de maneira que nós possamos sentir como os personagens se sentem e compreender o porquê de suas ações. Reli este livro várias vezes e acredito que todos deveriam dar uma chance para ele e suas lições.