Quase 30 documentos inéditos que integram a obra do escritor José de Alencar, considerado o fundador do romance brasileiro, começam a ser recuperados. O projeto Digitalização dos Manuscritos de José de Alencar foi lançado dia 4, às 15h, em Fortaleza, no Ceará.
A iniciativa foi selecionada entre as propostas culturais patrocinadas pelo programa Petrobras Cultural 2011. Serão investidos quase R$ 100 mil na construção do acervo digital que deve ser concluído em seis meses.
“[Os técnicos e professores da Universidade Federal do Ceará (UFC)] estão trabalhando com uma firma de digitalização especializada. São diversos manuscritos, muitos que não estão no Ceará, mas, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. É uma série de anotações, cadernos, romances iniciados e não terminados. Este material será digitalizado e disponibilizado na Casa de José de Alencar, que pertence a UFC e vai servir para estudo e pesquisa”, explicou Luís Carlos do Nascimento, gestor de patrocínio cultural da Petrobras.
O projeto de digitalização será feito com um scanner de baixa luminosidade, adequado para captar imagens de documentos frágeis e de difícil manipulação, como os textos encadernados do escritor. Nascimento lembrou que o projeto reforça a proposta de descentralização dos patrocínios culturais no país, abrindo espaço para iniciativas originadas, principalmente, no Nordeste brasileiro. “O programa tem esse olhar especial para projetos fora do eixo Rio-São Paulo”, acrescentou.
Entre os documentos inéditos que serão preservados com a digitalização estão cadernos com fragmentos de textos de José de Alencar que já foram publicados, como o livro autobiográfico do escritor intitulado Como e Por Que Sou Romancista. Outro documento que vai integrar o acervo digital é o ensaio antropológico Antiguidade da América, divulgado há pouco mais de um ano pelos especialistas em literatura da UFC.
“É um autor que merece ser redescoberto e há muito material inédito que precisa ser divulgado. Ano passado publicamos dois manuscritos inéditos dele [o ensaio Antiguidade da América e Raça Primogênita] e agora queremos dilatar isso divulgando um número maior de material que, ainda que inacabados, contribuem decisivamente para redescobrir o autor do ponto de vista crítico”, avaliou Marcelo Peloggio, professor de literatura brasileira da Universidade Federal do Ceará que integra o grupo responsável pela digitalização da obra de José de Alencar.
Segundo Peloggio, outro manuscrito que merece destaque é o romance que não foi concluído, Os Contrabandistas. “Há cópias, infelizmente em estado ruim, deste primeiro romance que ele havia escrito, quando ele tinha 18 anos. Infelizmente não será possível a reprodução total porque o material está muito deteriorado, mas, ainda assim, é um material interessante que mostra que nossa memória cultural precisa ser retrabalhada. Tem também anotações e rascunhos do Alencar. É curioso observar, por exemplo, que ele fazia revisão de material que já havia sido publicado, além de croquis de peças teatrais”, acrescentou o especialista em literatura.
Fonte: CFB