Por Laura Reckziegel
O documentário “Operação Enganosa” visa relatar casos verídicos que acontecem no ramo tecnológico medicinal nos Estados Unidos. Com o manuseio de depoimentos de várias vítimas e pessoas que estão ou já estiveram ligadas a essa indústria, ele mostra como a ganância por dinheiro e poder se sobrepõe à vida dos pacientes.
A tecnologia, ao longo das décadas, vem se transformando em uma ferramenta poderosa para o aprimoramento de inúmeras atividades. Na medicina, é inegável o auxílio essencial de novos equipamentos e técnicas na promoção da saúde humana. Contudo, esse desenvolvimento no ramo medicinal possui seus aspectos negativos, muitas vezes causados pelo uso inadequado desses recursos para benefício próprio dos médicos, das indústrias e, até, do governo – e esse é o conteúdo debatido na obra em questão.
Nos dias atuais, a vida humana tem sido um instrumento para a obtenção de lucro das grandes empresas. Com a perda da finalidade principal de promover a saúde pública, as mega indústrias, principalmente a farmacêutica, utilizam os pacientes como “cobaias” para aprimorar seus produtos e, assim, aumentar sua lucratividade.
Ao longo da narrativa, a produção aponta casos de corrupção ligados à indústria, governos, instituições e profissionais de saúde e transparece o sistema falho de aprovação de dispositivos de saúde. É perceptível a alienação da população no que se refere à sua segurança e os bilhões de dólares desperdiçados não apenas para a aquisição, mediante aliciamento e suborno, mas também, em virtude da necessidade de sanar os danos pelas complicações causadas por esses produtos. Além disso, as agências sanitárias, como a Anvisa, que deveriam ser mais combativas, não se prestam ao papel de defender o interesse público por estarem relacionadas com esses esquemas ilícitos. Ao final, se escoram em pesquisas manipuladas fornecidas pelos fabricantes. Constantemente há a burla do sistema de segurança, segundo o qual não se aferem os modelos sucessivos dos produtos, pouco importando se o dispositivo predicado tenha sido descontinuado por um vício insanável, por exemplo.
Aos 18 anos, fui diagnosticada com Síndrome do Ovário Policístico (SOP) e, sem a realização de nenhum exame para se observar o grau de comprometimento ovariano, a médica me receitou o uso de anticoncepcionais. Até meus 20 anos, fui refém de um comprimido infestado de hormônios para regular um problema que eu não tinha conhecimento sobre – e, pelo visto, nem a médica. Após diversos efeitos colaterais, decidi pesquisar sobre minha enfermidade a fim de buscar uma solução alternativa ao anticoncepcional. Após pesquisas em revistas científicas e consultas com médicos diferentes, com a realização de exames específicos, descobri que meu problema se solucionaria apenas com uma alimentação balanceada e a prática de exercícios físicos, além de aprimorar o conhecimento sobre o funcionamento do meu próprio corpo, com o Método de Billings, por exemplo. Agora, no auge dos meus 21 anos, estou saudável e sem nenhum efeito colateral.
Pela perspectiva individual, vejo que inúmeros médicos, inclusive a minha antiga ginecologista, são financiados a incitar medicamentos nocivos à saúde de cada um de acordo com sua pessoalidade. Lembro-me muito bem da propaganda realizada pela clínica dela com panfletos do anticoncepcional que ela me recomendou. Infelizmente, não só minha vida, como a de milhares de pessoas, são prejudicadas pela ganância de terceiros. Assim, devemos estar atentos, pois, ao contrário do que pensamos, encontraremos frequentemente profissionais interessados em encher o bolso atuando contra a nossa saúde.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)