Por Maria Carolina de Souza
“Deuses americanos” é um romance do mesmo autor de “Coraline” e da HQ de Sandman, mantendo o estilo sombrio e filosófico no texto. Para além de uma simples história, ele constrói uma realidade com base nas culturas que formam a nossa cultura; e ainda para além dessa realidade, ele constrói uma grande pergunta para nós.
Shadow Moon é um ex-presidiário que procura voltar para a sua vida quando é atravessado por uma figura misteriosa que interfere no seu destino, um homem chamado Wednesday. Esse homem o contrata como uma espécie de segurança que precisa protegê-lo e apoiá-lo em certas práticas não muito permitidas pela lei. Logo sua verdadeira identidade é revelada e junto dela a influência que exerce sobre os antigos deuses americanos.
Assim, o romance demonstra como as diversas pessoas que foram até os Estados Unidos — e suas religiões — no passado se fizeram presentes nessa sociedade e moldaram a cultura. Alguns capítulos também narram pequenas cenas dessas pessoas e outros personagens, demonstrando a riqueza histórico-cultural de cada gente que para lá foi transportada. Além disso, há um claro conflito entre tais deuses antigos e os novos deuses americanos em um contexto de fins do século XX e início do XXI, criticando a mudança da realidade estadunidense.
É válido ressaltar que há um certo suspense e uma vontade de se entender o que se passa no plano de fundo, bem como compreender a verdadeira história de Shadow e como ele chegou a esse lugar. Junto do humor perspicaz, esse livro traz uma reflexão inerente ao indivíduo humano — quais são os deuses que você adora? — e a transporta para o plano social: quais deuses a América adora? Dessa maneira, Neil Gaiman explora o próprio plot do romance para fazer uma leitura válida e bem construída sobre o coração humano e social. No meu caso, as páginas passaram e eu nem vi chegar ao final.