Por Flora Cruz
O primeiro livro publicado da queridíssima Ella Ferreira conta a história de Thomy, um homem negro que passou por muitos empregos e finalmente havia encontrado um em que tinha a estabilidade assegurada. A história (que majoritariamente se passa em uma única noite) inicia com o protagonista conversando com o que nos parece ser um psicólogo e logo nos insere em um momento passado, mais especificamente na noite em que toda a estabilidade de Thomy se desmanchou.
Durante a noite em que tudo aconteceu, Thomy e sua namorada, Fátima, estão em direção a um evento de trabalho, numa dinâmica um pouco estranha, principalmente porque a garota de cabelos louros parece desgostosa em acompanhar o namorado na festa em que ele receberá uma grande promoção.
Não bastasse o desânimo de Fátima e suas atitudes que beiravam a grosseria, a situação entre o casal naturalmente piora quando os colegas de trabalho de Thomy fazem comentários indiscretos e de péssimo tom sobre Fátima. Sem qualquer noção de etiqueta e comportamentos adequados, os colegas do protagonista se fazem incrédulos quando veem que ele de fato tem uma namorada de longa data, fazendo constantes comentários sobre como duvidavam da veracidade do relacionamento e, vez ou outra, fazendo afirmações inapropriadas sobre o corpo da mulher.
Ainda mais desgostosa com tudo o que acontecia, a mulher se retira de perto do grupo para ir em direção ao banheiro e, escutando uma conversa de duas funcionárias da mesma empresa em que Thomy trabalhava, descobre que o namorado será nomeado Gerente Geral de Representações, um cargo de extremo prestígio, ao contrário do que ele havia contado. Plausivelmente, Fátima fica ainda mais irritada com Thomy por ter mentido, e ambos têm uma breve discussão durante o evento.
A história, por sua vez, nos leva para um flashback, mais especificamente para um momento da infância de Thomy. A cena de extrema delicadeza traz consigo momentos em que o protagonista sofre racismo e é excluído pelos colegas de sala por ter condições financeiras precárias, dando-nos uma pequena noção de quem o protagonista de fato é e quais são as suas motivações.
Findada a cena de infância, somos subitamente levados para o momento em que Thomy, sem qualquer aviso prévio e na frente de todos no evento, ajoelha-se e pede Fátima em casamento. Sinceramente, neste momento, me perguntei como ele quer se casar com uma pessoa tão chata e estupida quanto Fátima, ao mesmo tempo que gostaria de saber por qual motivo ela aceitaria ao pedido depois de o homem tê-la deixado passar por situações tão desconfortáveis em uma única noite.
Depois de toda a comoção do pedido, Fátima nega a proposta e sai da festa sem nenhuma explicação. Não bastasse todo o ocorrido, a promoção, que até então todo mundo pensava ser de Thomy, acaba sendo de uma outra pessoa, gerando surpresa não apenas para todos os personagens do livro, mas também para os leitores.
Mesmo que parecesse que as coisas não poderiam piorar, no dia seguinte, Thomy vai em direção ao chefe para saber o que havia o feito dar a promoção para outra pessoa. Mas, no meio de uma discussão acalorada, descobrimos que Thomy havia mentido para os clientes da empresa, vendendo produtos falsos e acarretando em inúmeros processos judiciais contra a companhia. Para além disso, também descobrimos que Fátima não era a namorada do protagonista, mas uma prostituta que havia contratado.
Por fim, o livro acaba com o protagonista na sala de terapia, repetindo a frase inicial da história, dando a ela um final circular e extremamente interessante.
Mesmo que eu já tivesse lido a sinopse do livro, devo dizer que ele me surpreendeu mais do que gostaria de admitir. A história é ótima e, por mais que tenha me irritado com os personagens, é uma obra que definitivamente vale a pena.
“– Você já ouviu dizer que chegar ao fundo do poço nem sempre é mau sinal?” (A Um Passo da Ascensão) – Sombra do Eu, Imagem de Felipe Marques
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)