Por Jully Mendes
Escrito por Beth Morrey e lançado pela editora Intrínseca em 2020, o livro “A Segunda Vida de Missy” possui uma trama que gira em torno da protagonista Millicent Carmichael de 79 anos – também conhecida como Missy – e sua vida ao envelhecer. Como o próprio título já entrega, de fato os leitores são apresentados às duas vidas de Missy: a primeira começa a partir de sua infância e vai até a solidão do envelhecimento, e a segunda inicia quando a personagem consegue recuperar a alegria de viver.
A história é narrada a partir do ponto de vista da protagonista e é intercalada por suas perspectivas no presente e passado, permitindo que o leitor a conheça melhor e compreenda suas dores, atitudes e acompanhe sua evolução ao superar os fantasmas do passado.
Sem ter o marido, os dois filhos ou amigos por perto, Missy é uma senhora que luta com a solidão a cada dia que passa ao viver sozinha na grande casa onde deu início a sua família, acompanhada somente por lembranças e ressentimentos. Logo no início da leitura, é possível perceber o quanto é difícil para ela encontrar sentido na vida e sentir-se bem consigo mesma.
O enredo começa a mudar quando ela decide ir ao parque assistir a um evento e conhece Sylvie, uma simpática mulher que passa a conversar com ela. Em seguida, ela conhece Ângela e seu filho pequeno, Otis. A princípio, Missy não tem muito jeito para se relacionar com as pessoas e esquiva-se em alguns momentos, porém aos poucos ela passa a afeiçoar-se a eles e cria um laço de amizade. É através de Ângela que a protagonista conhece Bobby, uma das figuras mais importantes de toda a história. Bobby é uma cadelinha que Missy aceita cuidar por um determinado tempo, inicialmente a contragosto, e muda totalmente sua rotina. Ao longo do enredo, Bobby passa a ser uma companheira fiel e significa bastante para ela. Para quem possui animais de estimação, é possível identificar-se com a linda relação que há entre as duas.
A partir da chegada destas novas companhias, Missy aprende a recomeçar e passa a ter uma nova perspectiva para a vida, a criar planos, estabelecer amizades, recuperar relações gastas por desentendimentos e sente que há uma razão para acordar todos os dias. Em determinado trecho, a protagonista diz o seguinte: “Seis meses antes, teria dito que não, mas, ultimamente, vinha experimentando uma sensação de otimismo que se infiltrava em mim – a ideia de haver coisas por que esperar, de que eu havia alternativas; era uma sensação deliciosa.”
A autora consegue transmitir, de maneira sensível e emocionante, reflexões em assuntos como a maternidade, envelhecimento e a solidão que acompanha essas diferentes fases da vida. Além disso, é possível pensar sobre o que demonstramos ou deixamos de demonstrar às pessoas que amamos e sobre o peso das palavras que dizemos ou não dizemos.
Durante a leitura, pude perceber que assim como Missy, no período de isolamento social que vivemos recentemente, muitas pessoas também sentiram solidão e desânimo, pois entre tantos problemas advindos com a pandemia, um deles foi a falta de perspectiva para o futuro durante muito tempo. Foi e ainda tem sido difícil agarrar-se a algo que desperte a vontade de viver reprimida em si por conta deste cenário. Por isso, creio que esse livro possa transmitir uma mensagem que instigue, de certa forma, o leitor a seguir um dia de cada vez através de um novo ponto de vista.