A Face Amarela – Releituras na Quarentena

por Camila de Lima da Silva

Livro: Sherlock Holmes – Casos Extraordinários

Autor: Arthur Conan Doyle

Nos dias monótonos e quase idênticos que vão se repetindo nesta pandemia que paralisou o mundo e puseram todos em quarentena, o renomado autor Arthur Conan Doyle, por meio de seu famoso personagem Sherlock Holmes, traz dinamismo, mistérios, piadas, suspense, ação e tantos outros efeitos, que são quase inimagináveis de se ter em um isolamento social.

Por mais que se esteja em meados do século XXI – tempo reconhecido pela tecnologia, instantaneidade de informações e divertimentos, como filmes e séries – muitos desejam a calmaria proveniente da leitura de uma boa obra literária para se exilar da movimentação urbana.

Apesar de ter iniciado o sucesso em revistas e livros, cabe ressaltar que a trajetória de Sherlock não findou nas linhas dos livros. Com o avanço da modernidade, foi interpretado em muitas séries, filmes, seriados, desenhos. Foi tanto o sucesso nas telas, que o detetive criado por Doyle acabou sendo considerado o personagem mais representado de todos os tempos.

Com isso, pode-se ver que a obra de Arthur manteve influência durante muito tempo, inclusive nos dias atuais, e, portanto, deve ser lida e relida para, na fonte do seu livro, resgatar a essência de Sherlock Holmes que, facilmente, pode ser perdida se somente é conhecido pelos meios televisivos.

Através dos escritos de Conan Doyle, o leitor é levado a Londres do final do século XIX início do século XX, especificamente para a rua mais famosa da literatura, rua Baker 221B.

A princípio, são apresentados os dois personagens principais, Watson e Sherlock Holmes, no qual Watson, além de amigo que divide apartamento e companheiro de aventuras de Sherlock, é também quem escreve um diário que narra todos os casos que o único detetive consultor do mundo resolvia. Dentre tantos casos, Watson relata o da Face Amarela.

Apesar de não ser o primeiro caso na linha cronológica da vida profissional de Holmes, este é o primeiro abordado no livro devido um fator atípico: o detetive mais genial que se conhece até hoje não consegue acertar na resolução desse caso.

Em primeiro plano, é destacada a capacidade quase inacreditável de percepção e dedução do detetive, que chega a surpreender o próprio cliente que busca seus serviços, o que, inevitavelmente, prende a atenção de quem lê fato que se repete ao longo de toda a trama.

Ao decorrer da história, o cliente, senhor Grant Munro, expõe sua problemática, ainda nervoso e sem acreditar no que lhe tinha acontecido. Concomitantemente, Watson e Sherlock Holmes já, como que instintivamente, analisam as vestes, a forma de falar, os acontecimentos que narra, a fim de, o quanto antes, encontrarem respostas esclarecedoras.

Todavia, como se diz no ditado popular, a pressa é inimiga da perfeição. Talvez Holmes fosse apressado demais ou talvez não conhecesse essa frase de sabedoria popular dos nossos dias. Assim, precipitadamente, disse que a solução para o mistério era simples, a mulher traia seu marido atual com seu ex-marido.

Posteriormente, o próprio cliente descobre que essa suposição não estava certa. Na realidade, a conjuntura era muito melhor que a esperada: era uma criança, a filha da esposa do Sr. Munro, que havia voltado para perto do colo de sua mãe.

Num contexto tão anormal quanto este de 2020, Sherlock, em A Face Amarela, também vivencia uma experiência nada comum, ter errado em seu trabalho. Essa situação, que, para uns, poderia ter sido desesperadora, já que não correspondeu ao esperado, para

Holmes foi causadora de aprendizado, perseverança e humildade em admitir seu erro. Assim também seria proveitosa a conjuntura atual se todos vissem do prisma positivo.

Embora não tenha alcançado a perfeição em A Face Amarela por conta da pressa em afirmar a solução, o quase invicto detetive Sherlock Holmes não permitiu que isso o paralisasse.

Tal atitude incentiva aos leitores do presente século e da presente pandemia a perseverarem em seus empreendimentos, sonhos, projetos, ainda que, na primeira perspectiva, não tenha obtido bom resultado.

Sherlock ensina de maneira discreta que não é uma situação ruim, como a Covid-19, que limitará nosso aproveitamento, aprendizado, mas sim a própria pessoa. Ao seguir adiante, Holmes convida aos seus leitores a seguirem adiante em meio a dificuldade que vir, ao erro, não para permanecerem na falha, errando pela segunda vez, porém convoca a retirar coisas boas disso e se aperfeiçoar, sem se cobrar em excesso.

Ademais, a atitude do doutor Watson também vale ser ressaltada, uma vez que, ao Holmes ser humilde e perseverante, contagia seu irmão de aventuras seguir no mesmo caminho. Ou seja, quem vive bem essa superação, leva outras boas companhias para descansar nesse refrigério de vencer a si mesmo em diversas ocasiões. Participe também desse oásis em meio ao caos da quarentena na ilustre companhia de Sherlock Holmes.

          

Fonte das imagens: Google imagens

Indicação do livro na base Minerva: https://minerva.ufrj.br/F/?func=item-global&doc_library=UFR01&doc_number=000792776

 

  

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