“A Canção de Aquiles”, Madeline Miller

Por Giovanna Lima

A aclamada releitura da Ilíada pelos olhos de Madeline Miller, conta a história de Aquiles na visão de Pátroclo. Se você já conhece a história de Aquiles, é possível que o livro pareça maçante e prolongado, porém ele é a representação do que normalmente é ignorado nos livros de história. Nenhuma história é realmente contada se não falar sobre o amor e Aquiles e Pátroclo são muito mais do que amigos nessa releitura. 

A história possibilita ao leitor ver o nascimento de Pátroclo, seu terrível acidente e o filho do rei sendo rebaixado a um cidadão comum. Acompanhamos os personagens desde a infância até a idade dos 27 anos, onde ainda é possível reconhecer traços dos garotinhos que vemos crescer nas páginas iniciais. Nota-se também, como Aquiles desde o princípio escolhe sempre sua reputação acima de tudo e, como isso, é o motivo exato que lhe tira seu bem mais precioso ao final da história. 

Não há como negar que Pátroclo, vestindo a armadura de Aquiles quando sai da praia, mesmo sob recomendação de que fique lá, que não lute, que somente espante os troianos, está nos mostrando o lado humano e desesperado do personagem, que deseja o fim da guerra sem a morte de Heitor, pois sua morte é a promessa do fim da vida de Aquiles. Seus sentimentos no livro são a constante lembrança de como humanos são fracos mediante as figuras notórias do passado, como eles têm o direito de serem lembrados por décadas, por serem invencíveis, enquanto humanos comuns são normalmente apagados. 

A flecha no calcanhar de Aquiles pode não acontecer no livro, mas a representação do alívio que é para o mesmo quando ele é finalmente morto em campo de batalha é impossível de não ser sentida. Ele já não quer mais a glória que seu nome sustenta, ele só deseja ser reunido com o que perdeu e se apagou daquela existência. 

O final esquisito e apressado pode deixar um gosto amargo na boca, pois, diferentemente do menino de ouro que é Aquiles, seu filho demonstra ser uma víbora imbatível. Entretanto, assim como a ameaça vem sem sentido, ela vai embora de forma mais rápida ainda e a alma de Pátroclo vê a ajuda ser enviada pelas mãos mais inesperadas. 

A história finaliza-se de maneira bela e tem o poder de deixar o leitor apático por alguns dias. A sensação latente de querer viver um amor verdadeiro como o deles persiste, mas eventualmente vai sendo esquecida, assim como diversos contos de almas perdidas. 

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de Extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)

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