“O Quarto de Giovanni”, James Baldwin

Por Vitor da Hora

O Quarto de Giovanni é um romance do autor estadunidense James Baldwin, publicado originalmente em 1956. Afro americano, nascido na cidade de Nova York em 1924, Baldwin foi militante da causa dos Direitos Civis em uma época que a segregação racial ainda era institucionalizada nos EUA e, sendo abertamente homossexual, também militou em prol da liberação gay (como era chamado o movimento LGBTQIA+ à época). Recentemente a obra e o legado de Baldwin vem sendo revisitadas por meio de iniciativas como: o documentário I Am Not Your Negro (2016); a adaptação cinematográfica de Se a Rua Beale Falasse (2018); e a restauração do curta-metragem Meeting the Man: James Baldwin in Paris (2021, disponível na plataforma de streaming MUBI). Ao tratar de temas como relações raciais e homossexualidade, a literatura de Baldwin permanece mais que contemporânea e cativando milhares de leitores.

A trama do livro narra a história de David, um jovem americano que está passando uma temporada em Paris com (algum) apoio financeiro de seu pai – mesmo período em que se afasta de sua namorada Hella, que viaja para a Espanha após deixar em aberto um pedido de casamento feito por ele – onde, através de um amigo em comum, conhece Giovanni, um pobre imigrante italiano e garçom de um bar gay, com quem passa a se relacionar. David e
Giovanni vivem uma paixão tórrida (e posteriormente conflituosa), e logo o protagonista passa a viver junto de seu amante que habita em um pequeno e mal cuidado dormitório, que dá título ao livro. Desde o início do texto – narrado em primeira pessoa por David, rememorando o episódio – é prenunciado um desfecho trágico para Giovanni, dono de uma personalidade forte e envolvente. Dentre os temas tratados no livro estão a homo e bissexualidade, machismo (inclusive presente nos personagens gays), papéis de gênero em uma sociedade heteronormativa, e desigualdades sociais – tendo como pano de fundo uma Paris boêmia, ainda se reestruturando do pós-guerra. A narrativa do texto é rápida e permeada por crescentes tensões psicológicas.

Publicado na conservadora década de 1950, o livro suscitou controvérsias logo após seu lançamento – obviamente por abordar a homoafetividade de maneira tão direta, algo até então pouco comum na literatura da época. Uma parte do público de Baldwin, conquistado com o seu romance anterior Se o Disseres na Montanha (1953), também rechaçou a ausência de questões raciais no enredo e a escolha do autor em trabalhar apenas com personagens brancos nele – sendo que esta opção na verdade evidencia o caráter plural e versátil da obra de Baldwin. Lançado mais de dez anos antes dos eventos de Stonewall (1969), O Quarto de Giovanni é considerado um romance pioneiro em termos de representação queer. Além do vanguardismo de Baldwin, o principal trunfo do livro é densa construção psicológica dos personagens (especialmente o protagonista) por parte do autor: com ambiente deteriorado do quarto servindo de metáfora, tanto para a falta de sanidade mental de Giovanni quanto para as inseguranças de David com a sua sexualidade.

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