Por Edgard Corteletti
Como denuncia o título, a peça já se inicia com uma tempestade, em que uma tripulação de marujos, seu comandante e contramestre lutavam pela sobrevivência. Em determinado momento, a tripulação já se dando por vencida entregava aos céus o seu destino. Tomada a navegação por um incêndio, muitos, em desespero, se jogaram ao mar.
Perto dali, em uma ilha, uma filha, Miranda, pedia a seu pai, Próspero, que caso culpado do infortúnio que acometera os tripulantes da navegação, parasse e fizesse com que as águas se acalmassem. Miranda, além de bela, era bondosa. Próspero, por sua vez, era um ancião, muito afeito à leitura e aos estudos das ciências secretas. Além disso, um mago, e fora sim responsável pela tempestade que assolara a tripulação. Próspero era, na verdade, o rei do ducado de Milão, e deixara os cuidados há muito a seu irmão Antônio, no que preferiu recolher-se e dedicar-se a seus estudos. Nisso, seu irmão, aliado ao rei de Nápoles, Alonso, o traíra, e fizera com que fosse destronado e jogado com sua filha numa pobre embarcação ao mar, munidos de poucos suprimentos e livros, deixados em claro risco de morte. Contudo, sobreviveram e se abrigaram na ilha de então, e Próspero tudo isso revelara à filha, a fim de lhe explicar o porquê de causar a tempestade, por querer a sorte que tivesse oportunidade de vingar-se de seus inimigos, mas lhe tranquilizando de que nenhum mal aconteceu a ninguém devido à tempestade. Entretanto, lhe ocultou outros detalhes, especialmente o plano que bolara.
A ilha em que viviam Miranda e Próspero, antes fora habitada por Sycorax, uma poderosíssima bruxa, que de feitos tão horrendos, fora banida pelo rei da Argélia, e só foi poupada da execução pelas mãos dos marinheiros encarregados por estar grávida. Salva, mas ainda má, aprisionou Ariel, um gênio, em uma fenda de pinheiro da ilha por não querer obedecê-la em suas maldades. Próspero, ao habitar a ilha anos após a morte da bruxa, libertou o gênio da maldição, o que lhe rendeu seus favores. Convivera por muitos anos Próspero também com Caliban, filho de Sycorax, que permanecera na ilha e morou com eles na cela. Contudo, a tentativa de Caliban de cometer um estupro contra Miranda – Aqui faço um “parêntese”, a quem possa desistir da leitura pela sensibilidade do tema: o evento aparece mencionado em um dos diálogos da peça, como uma situação do passado, em que se aponta o porquê do feito de Próspero contra Caliban, no que este o responde que deveria ter realizado o que intencionava e que só não o fez por ter sido impedido, um diálogo forte, mas que depois, basicamente, a situação não é mais mencionada na peça -, fez com que Próspero se revoltasse contra o mesmo e o escravizasse.
Os inimigos a serem castigados pela tempestade no mar eram especialmente seu irmão Antônio e o rei Alonso. O filho do rei, Ferdinando, que conseguira se salvar e chegar à ilha, foi manipulado pelo gênio Ariel que se fez de ninfa e cantou para atraí-lo até onde estavam Próspero e Miranda. Tudo fazia parte de um plano de Próspero, que de cara demonstrou ter sucesso, quando Ferdinando e Miranda prontamente se interessaram um pelo outro. O rei Alonso, por sua vez, bem como Antônio e outros acompanhantes, se encontravam em outra parte da ilha, sem de nada fazerem ideia.
A partir daí, então, segue a peça, como que em um jogo de tabuleiro do mago Próspero, contando uma história de amor, mas também de feitiços e traições, sendo repleta de elementos mágicos e fantásticos, além do mais visceral do humano. Conta, inclusive, com diálogos, por vezes, cômicos, sobretudo os dos nobres perdidos na ilha. É uma leitura também muito rápida, e de história tão envolvente, que quando se vê é pego de surpresa por chegar ao fim.