Por Giovanna Lima
Com uma lista extensa de gatilhos e alerta antes de se iniciar a leitura, “A toca das raposas” é o novo lançamento da editora Record que se tornou um sucesso de vendas no Brasil. Após uma espera desgastante dos fãs por algum sucesso das diversas editoras que tentaram entrar em contato com a autora da história, Nora Sakavic deu finalmente as boas-vindas aos fãs brasileiros para sua obra.
“Tudo pelo jogo” é uma trilogia que apresenta Neil Josten ao público. A história é focada no jogo e na obsessão de Neil por Exy, uma espécie de lacrosse misturado com hóquei de gelo. Seguindo o cronograma dos jogos universitários, o leitor conhece aos poucos a história conturbada de Neil — que, na verdade, não se chama Neil —, e que, ao ser perseguido pelo pai assassino por anos, precisou descartar sua identidade e fugir com sua mãe.
A história já deixa claro desde o começo que o personagem principal não terá um segundo de descanso, pois, ao ser lida no ponto de vista de Neil, temos acesso pessoal a seus pensamentos, sabendo que constantemente o garoto se encontra tenso e pronto para a fuga. Estando na estrada há mais de 10 anos com a mãe, que faleceu por ferimentos graves logo no início do livro um, Neil desconfia de tudo e de todos. Sendo assim, seu único conforto é o esporte que o seguiu desde a infância, permitindo que ele se sentisse uma pessoa normal sempre que estava em quadra.
A vida de Neil se entrelaça com as raposas de Palmetto State quando o mesmo é recrutado pelo treinador e dois jogadores, Kevin Day e Andrew Mineyard, que não aceitam um “não” como resposta do recruta. A partir desse ponto, a vida de Neil passa por provações que todo jovem passa, querendo encontrar seu lugar e ser aprovado por outros, mas de uma maneira peculiar.
Sendo o time de Exy da Palmetto formado por jovens considerados problemáticos, não é surpresa nenhuma que Andrew seja conhecido como “monstro” ou “pequeno psicopata”, por passar por um julgamento pelo suposto envolvimento na morte da própria mãe. O garoto agora anda medicado – ou pelo menos deveria – segundo as leis do estado, e mesmo entre a névoa dos controladores de humor, ele testa Neil a seus limites para descobrir quem é esse garoto que pinta os cabelos ruivos de preto e usa lentes de contato castanhas. Andrew tem o dever de proteger alguns membros do time de pessoas perigosas, então o livro um se resume à tentativa do loiro de descobrir se Neil é uma ameaça ou um possível aliado. Infelizmente, com o que Andrew descobre sobre Neil, tudo indica que ele não está ali para ajudá-los. Porém, mesmo com o intenso poder de análise que Andrew aprendeu a ter, Neil consegue ser mais furtivo e esconder seu verdadeiro eu do garoto, levando-os a uma relação turbulenta entre omitir verdades e confiar pequenos pedaços do seu ‘eu’ real ao loiro.
Enquanto o relacionamento complicado de Neil e Andrew se desenvolve, os jogos, os treinos e a relação caótica das raposas são colocados em teste constantemente. O livro aborda a dificuldade do time lanterna da primeira divisão em trabalhar junto, assim como atingir as expectativas de Kevin, ou simplesmente coexistirem na mesma quadra sem brigarem.
Porém, com o passar da trilogia, fica explícito que o trabalho de juntar a equipe se concentra em Neil, que precisa que aquele time dê certo, pois é sua única chance de ter uma vida normal antes do relógio parar de girar. Felizmente, Neil passa a ser aquele que se dá bem com todos — ou pelo menos o melhor que consegue — e que instiga aquelas raposas a trabalharem em conjunto para ajudá-lo ou protegê-lo. Logo, o grupo disfuncional de atletas se torna a “found family” de tantos leitores.
Mesmo com suas diferenças evidentes de personalidades e crenças, os jovens se auxiliam e sempre estão presentes para defendê-los, apoiá-los ou protegê-los. Quando se encontram sozinhos, o grupo é caótico, mas quando colocados contra o mundo, eles são uma unidade imbatível.
A história prossegue de maneira a não deixar que o passado obscuro de Neil seja esquecido durante seu percurso. Enquanto o mesmo se envolve nos problemas atuais das raposas, ele precisa manter um olho nas costas, esperando para ver quaisquer sinais que seu pai ou seus capangas possam deixar. Infelizmente, ele ignora o sinal mais claro de todos e o terceiro livro se torna um banho de sangue e perseguição.
Dividindo protagonismo com os jogos, a perseguição de Neil está em seu estopim em “Os Homens do Rei”, onde sua localização já não pode mais ser escondida, seu rosto original está estampado nos jornais e sua história verdadeira — assim como seu nome — explode nas notícias. A grande questão remanescente agora é: Neil sobreviverá ao castigo que o espera no fim da linha, ou pior, teria ele trazido o maior assassino da década para a vida de sua nova família?
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)