Por Daniel Paes
“O Exorcista” é um romance escrito pelo autor estadunidense William Peter Blatty e foi publicado pela primeira vez em 1971. O livro conta a história de uma garota que é possuída por um demônio, fazendo com que a sua mãe pedisse auxílio de padres para resolver o problema.
Essa obra configura-se como um dos maiores clássicos da literatura de terror. A forma como o romance cria uma atmosfera aterrorizante e macabra é muito peculiar e traz um charme para a leitura, que não deixa nada a desejar se comparado com sua adaptação cinematográfica. O gênero terror se apoia muito em recursos visuais e sonoros para poder criar uma atmosfera que incomoda e desperta sentimentos ruins nas pessoas. Portanto, filmes e jogos eletrônicos possuem uma facilidade quando se trata de assustar o seu público. No entanto, fazer isso apenas com palavras é uma tarefa muito mais árdua. É nesse aspecto que “O Exorcista” brilha, pois se utiliza de um terror mais psicológico e de um horror que leva mais em consideração as ideias do que a imagem que tentamos criar em nossas cabeças durante a leitura.
O ponto mais aterrorizante do livro é a dualidade que ele apresenta. A escolha de colocar uma criança para ser o alvo de uma possessão demoníaca é o que torna essa obra tão desconfortável, o que é o esperado de uma obra de terror. O fato de vermos uma criança, que é pura e inocente, sendo deturpada por uma criatura vil e perversa é o que faz essa obra ser tão aterrorizante. O romance pega um imaginário de pureza das crianças estabelecido no senso comum e o desconstrói. Com certeza, a obra não teria o mesmo impacto se fosse um adulto sofrendo da possessão.
A narrativa soma esse conceito de desconstrução da imagem da criança com uma agonia oriunda de uma figura materna. A obra não apenas te incomoda por vermos uma criança tendo um comportamento deslocado de sua idade, mas também porque nos projetamos no lugar da mãe que presencia isso tudo com impotência. Nós nos colocamos no papel dela e entendemos a dor de uma mulher que não pode fazer nada para proteger aquilo que é mais precioso para ela.
Toda essa atmosfera densa e pessimista se reflete nos personagens e também no leitor. Tudo é muito obtuso, nada parece dar certo. O demônio sempre parece ter o controle da situação e o padre responsável pelo exorcismo não tem muitos recursos para lidar com toda essa experiência. É uma aventura desgastante para os personagens e isso transborda para quem está acompanhando através da leitura, fazendo com que essa seja uma ótima leitura se o seu objetivo é ficar aterrorizado.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)