Por Victor Jandre
O livro “Sempre em frente”, de Rainbow Rowell, é um dos romances LGBTQ+ que se passa em um mundo fantasioso, trazendo bastante aventura e construção de mundo em sua história. Ele é o primeiro livro de uma saga de livros que conta a história do casal principal, mas as primeiras menções desses personagens surgiram em “Fangirl”, também de Rainbow Rowell, exceto que, no universo daquela obra, eles são personagens fictícios de um livro.
Na história, o protagonista Simon Snow é estudante de uma escola de magia — no maior estilo Hogwarts, com varinhas e fantasmas cheios de carisma — e possui uma “vida perfeita”: uma melhor amiga, uma namorada e até mesmo um rival, um menino chamado Baz. Porém, tudo muda quando Baz desaparece momentaneamente e, quando retorna para a escola, começa a agir de maneira esquisita. Juntos, Baz e Simon precisam descobrir o mistério do assassinato da mãe do rival, mas acabam descobrindo tanto quanto sobre si.
A trama é bastante madura e, por isso, trata os seus personagens com bastante maturidade também. Os protagonistas têm aquele tipo de rivalidade juvenil que só se vê nos filmes — mas, é claro, muito mais aprofundada pelo fato de estarem profundamente apaixonados um pelo outro. Esse contraste entre o ódio e o amor é um dos pontos altos do livro, mostrando como a obsessão criada por essa rivalidade se origina de uma paixão que nenhum dos dois compreende em seu total escopo. Mas, desde cedo, percebemos que o que eles sentem um pelo outro é muito mais do que apenas irritação.
Apesar de não ser universal, é uma experiência que muitos jovens LGBTQ+ passam por (mesmo que em escala infinitamente menor): sentir raiva de pessoas de quem gostam como forma de externalizar o amor que a sociedade ou eles mesmos tentam reprimir.
Também ajuda que tanto Simon quanto Baz são individualmente empolgantes e interessantes. Simon é uma subversão do arquétipo do herói escolhido por uma profecia: ele é o indivíduo mais poderoso de toda a escola, talvez de todo o mundo, mas ele não consegue controlar suas habilidades, muito menos as suas emoções, mesmo que o diretor da academia e sua figura paterna, chamado O Mago, e toda a comunidade mágica conte com ele.
Baz, por outra parte, representa outro extremo: ele é o arquétipo do bad boy, exceto que com a subversão de ter um coração de ouro e que, com o passar da história, conquista lentamente o coração do leitor. Na última perna do livro, meu foco estava completamente nele, na sua história com a sua mãe e em seus conflitos externos sobre o seu relacionamento com Simon.
Apesar de a história ser imersa em clichês — por mais que subvertidos, ainda são clichês — ela inova ao trazer a perspectiva LGBTQ+ para a fórmula. Afinal, se todo livro de fantasia que repete o mesmo enredo possui um casal hétero, por que o público gay não poderia ter um desses para chamar de seu? E, no fim das contas, estão em boas mãos, pois “Sempre em frente” traz uma bela e encantadora exploração de uma das experiências mais comuns da comunidade.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)