Um dia patético

por Livia Magalhães

Saiu a notícia de que um dos caras foi pego com alguns quilinhos de entorpecentes. Que azar. Saem três num taxi, dividindo a despesa que parece muita, para a vigésima primeira DP. Uns trocados pro motorista, ordeno, e quatro mãos com moedinhas em suas palmas aparecem como mágica. O motorista, cara de índio e corpulento, nos manda beijinhos pelo retrovisor. Mostro dedo médio e abro a porta do carro e corro.
Tem fiança? Não. Como não tem? Não tendo.
Resmungo baixinho que porte de drogas deveria ser favorecido. A juventude seria mais feliz se tudo fosse liberado.
O que, menina?
Nada.
Desenho com a ponta dos dedos um coração dilacerado no vidro sujo de uma viatura, do lado de fora. E faço dois paus apontados um para o outro e, logo acima, escrevo “PM”. Um dos policiais vem ver a ocorrência. Corro até a escola, mas não entro. As meninas me seguem, fazendo caretas gigantescas e dando gargalhadas homéricas gritando palavrões e chamando-os de broxas, feiosos, filhos da puta, horrorosos, pintinhos. Fazem gestos obscenos: uma mão com o dedo médio em riste, enquanto outra faz um buraco com o indicador e o polegar para cima e para baixo, movimentos contínuos.
Não é horário de aulas. Ninguém me vê.

Comemos pastel de frango. Uma das meninas diz, seriamente, precisamos de um baseado. Estou nervosa, preciso de um baseado.
Façamos assim, respondo, pegamos um ônibus e deixo vocês na casa da Fernanda depois vou pra minha casa, minhas costas doem. Não tenho mais idade pra isso.
Você tem treze anos.
Ah é, parece cento e treze.

As vezes você não sente que as pessoas precisam da sua desgraça para viver sem culpa em suas vidinhas medíocres?
Não sei.

Foram elas para a maconha. Eu fui pro meu travesseiro. Dormi a tarde toda e me arrependi. Não de não fumar. De deixar que elas fumassem.
Mas eu preciso da desgraça delas…

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