Por Giovanna Lima
“Bem-vindos ao seu pior pesadelo!”
Com personagens cativantes, motivados pelo amor e pela vingança, Zhao cria uma das histórias mais eletrizantes que o mundo da fantasia já teve o prazer em conhecer. Com uma escrita fluida e uma tradução excelente, o livro se torna uma leitura impossível de largar, fazendo os leitores caírem no conto do “só mais um capítulo”. “Viúva de ferro” trás de volta a chama da fantasia sem se perder nas entrelinhas da história.
Trazendo para o público a sua visão de como seria a jornada da primeira e única imperatriz da China, Wu Zetian (que também se torna o nome da personagem principal) no poder, Zhao conta uma história audaciosa e brilhante, que enche os olhos do leitor com o fogo da revolução que Zetian está destinada a inspirar.
Em um mundo violentamente atacado por hunduns, criaturas que supostamente só querem destruir as construções humanas e conquistar cada vez mais espaço, as crisálidas são criadas a partir da força vital de duas partes: o Ying e Yang, representados pelos pilotos masculinos e suas concubinas femininas.
A premissa da revolução de Zetian se baseia no fato de que as morte de concubinas se tornam o preço natural ao emparelhá-las com pilotos com QI tão altos necessários para as batalhas fora das muralhas, e ninguém faz nada quanto a isso. Centenas de moças morrem aos montes e, apesar da contribuição financeira às famílias, que é o necessário para pará-los de buscar respostas, não impede Zetian de querer encontrar o piloto responsável pela morte da irmã, o catalisador de sua busca por vingança.
A garota, assim como a irmã, é forçada ao caminho das concubinas desde que nasceu. As jovens são tratadas como propriedades ao qual estão submetidas a venda, troca e humilhação constante.
Wu Zetian se diferencia das mulheres de sua vida e de sua história por não dar o braço a torcer para a submissão do patriarcado com tanta facilidade. Mesmo com a oportunidade de casamento com um dos filhos de um conglomerado de sucesso, a garota não permite que lhe tirem a única coisa que pode controlar: suas decisões.
Mesmo com a paixão latente que construiu todos os finais de semana em segredo com Yizhi, o garoto que tenta se casar com ela minutos antes de a mesma ser levada para a nave que a permitiria encontrar o assassino de sua irmã, ela não deixa que um coração apaixonado a tire do seu objetivo, que iremos descobrir se tornar uma luta muito maior do que ela mesma imaginava.
A viúva de ferro luta com unhas e dentes para concretizar sua vingança, não deixando que frivolidades normalmente encaradas por personagens femininas a desviem do seu objetivo principal. É reconfortante conhecer uma personagem que não cede pela pressão masculina, mesmo quando a olham com desprezo, mesmo quando a usam como uma arma, quando não lhe dão o valor simples de ser um ser humano.
A autora trabalha o feminismo e o machismo muito bem, sem deixar que a história caia no clichê da “falsa forte protagonista”, que não consegue realmente lutar as próprias batalhas e que não tem controle da própria vida sem a intervenção masculina. Zhao acha o ponto de equilíbrio entre uma personagem forte, sem deixá-la fria. Wu Zetian é uma mensagem clara e brilhante de que mulheres são iguais – e em muitos casos – melhor do que os homens, mas que o sistema as forçam a se submeter a sempre fingir ser menos.
Além de tratar de problemas sociais, o livro trabalha com a representação de relacionamentos poliamorosos sem o discurso padrão dos livros LGBTQIA+. Wu Zetian não deixa espaço para discussão, ela faz o que é certo para si e ponto. E opiniões alheias não lhe interessam.
E, mesmo com a sua porção de romance, a história não deixa o foco ser desviado da ação constante em que personagens em guerra se encontram. Apresentando um mundo completamente novo, Zetian e Li Shimin formam o par perfeito para conduzir a história da guerra contra os hunduns, das descobertas sobre o passado e também sobre a verdade por trás das mortes das concubinas.
O livro merece ser chamado de “livro mais esperado de 2022”, assim como se tornar o livro favorito de milhares de meninas pelo mundo todo, sendo traduzido para 14 idiomas e ter ficado na lista de mais vendidos por 41 semanas.
Apesar do final estonteante, semiaberto e com uma pitada do que está por vir, a autora deixou claro que a sequência não estará pronta até 2024 devido ao ciclo de pagamentos atrasados do mercado editorial, a obrigando a se concentrar em outro livro em andamento e em manter seu canal (e também sua principal fonte de renda) ativo.
Entretanto, todo o mundo se mantém ansioso pela aguardada sequência de Viúva de Ferro e o retorno provável e curioso de determinado personagem que fez os fãs derramarem lágrimas pela traição final.