Por Mario Henrique do Amparo Pereira
Aos Meus Amigos, de Maria Adelaide Amaral, é uma obra repleta de personagens, todos muito diferentes entre si, que se reúnem a partir de um grave acontecimento: o suicídio de Leo. As grandes amizades que ele construiu ao longo de sua vida se reencontram graças à sua morte.
Lena, Lúcia, Bia, Beny, Raquel, Caio, Adonis, Pedro, Pingo, Ivan, Tito e Ucha, os amigos, e Flora, a ex-esposa do falecido, são os principais personagens do livro, além do próprio Leo, que está presente através de sua ausência e das memórias dos outros. O tempo da narrativa é em um período de quase vinte e quatro horas, entre burocracias no IML, velório, enterro e deslocamentos às casas de Leo e de Lúcia. Ao longo da história, nos diferentes ambientes, conhecemos um pouco sobre todos os personagens citados, além de outros — como familiares, amigos ou cônjuges deles. E, claro, a amizade é uma personagem que permeia todo o romance.
Com a exceção de Ucha, todos os outros se conhecem desde a juventude; alguns deles até fizeram o colegial juntos. São relações com décadas de duração, e muitas situações antigas vêm à tona no decorrer das páginas. Todas as transformações que ocorreram com cada um deles ao longo de suas vidas, e tudo aquilo que, passe o tempo que for, nunca muda nas amizades.
Entre discussões políticas, tristezas, angústias, casos extraconjugais mal resolvidos e alívios cômicos, Aos Meus Amigos traz grandes reflexões sobre o mundo e a vida, quem eles foram e o que se tornaram, a sensação de que a iminência da morte se aproxima… Beny, um personagem um tanto controverso, já havia ido a três velórios em apenas dez dias. Percebe-se, então, que o ocorrido faz com que eles repensem tudo o que já viveram e como vivem agora. Há também uma espécie de caça ao tesouro ou, no caso, a um livro que teria sido escrito por Leo. A possibilidade da existência do livro mobiliza boa parte dos personagens a tentar encontrá-lo.
Maria Adelaide Amaral publicou a obra em 1992, o que justifica a forma como alguns assuntos são tratados — principalmente no que diz respeito ao suicídio de Leo, que rende momentos inegavelmente chocantes; é interessante perceber o quanto a discussão sobre o tema evoluiu com o passar do tempo. E, claro, várias questões pertinentes à época e em anos anteriores, como a ditadura militar, servem como pano de fundo de várias das lembranças dos personagens e fazem parte de quem eles são. A autora tem notável carreira, também, como roteirista da Rede Globo. O livro em questão, inclusive, foi adaptado como uma minissérie para a televisão em 2008 sob o título de Queridos Amigos, fazendo grande sucesso.
A relação entre os personagens é muito palpável. Em diversos momentos, é possível reconhecê-los como uma família — assim como Tito acredita que são —, com todas as suas problemáticas e desavenças, mas com um elo inquebrável. A quem lê, não resta dúvida: Tito está coberto de razão.