Por Lara Maia
Nesse clássico do Stephen King, Jack Torrance assegura uma posição como zelador no Hotel Overlook durante o inverno, vislumbrando isso como sua última oportunidade para proporcionar um futuro melhor para sua família. Enquanto ficam isolados pela neve, os Torrance – Danny, o filho, e Wendy, a esposa – confrontam monstros mais aterrorizantes do que as condições climáticas adversas, revelando que sobreviver ao Overlook é, na verdade, o verdadeiro desafio.
A narrativa, em terceira pessoa, oscila entre a perspectiva de diferentes personagens, adaptando sutilmente o estilo para refletir o ponto de vista em questão. Essas pequenas nuances proporcionam uma sensação íntima com cada protagonista, permitindo que a história flua de maneira envolvente. Dessa forma, a narração é constantemente entrecortada por pensamentos, dúvidas e sentimentos do personagem em foco, criando a impressão de estarmos simultaneamente dentro e fora de suas mentes. Essa abordagem confere ampla dimensão à trama e gera uma considerável tensão na história.
Apesar do tamanho moderado do livro, a leitura é ágil e descomplicada. A partir do momento em que o terror assume contornos mais sérios, torna-se praticamente impossível interromper a leitura. O tom da obra é denso, dramático e profundamente inquietante, mantendo a constante sensação de que algo terrível está prestes a desdobrar-se que acompanha o leitor a cada página.
Um aspecto que pode ser percebido como uma desvantagem por leitores menos atentos ou aqueles que ainda não se envolveram completamente com o enredo é a quantidade de detalhes e extensas descrições dedicadas ao Overlook. Cada corredor, a cozinha, o porão, os jardins, as topiarias — todos são minuciosamente descritos, às vezes até dando a sensação de repetição. No entanto, é fundamental compreender que esses detalhes constituem parte integrante da atmosfera de terror que emana do Overlook. Cada descrição desempenha um papel crucial na construção do clima de tensão e claustrofobia, sendo indispensável para a plena imersão na trama.
Até aproximadamente a metade do livro, Stephen King dedica várias páginas à apresentação dos personagens e aos contextos que vivenciaram em tempos passados. Essa abordagem é, sem dúvida, crucial para a experiência de leitura, pois, à medida que a história avança, os elementos se entrelaçam, proporcionando ao leitor uma compreensão completa sobre os personagens, seus pensamentos e ideias. Ao final, todas as peças se encaixam de maneira a dissipar quaisquer pontos de interrogação que poderiam surgir ao longo da narrativa.
Embora a percepção do terror seja altamente subjetiva para cada leitor, a maestria de Stephen King no horror psicológico de “O Iluminado” é indiscutível. O autor emprega recursos de escrita excepcionalmente refinados e complexos, como ligeiras regressões temporais em momentos específicos e mudanças de perspectiva narrativa. Os diálogos não apenas se destacam pelo conteúdo inteligente, mas também pela astúcia na construção narrativa. Constantemente, mistérios e pequenas pistas se entrelaçam, demandando total atenção do leitor, enquanto uma aura de suspense sinistro envolve as impressões de Danny.
Por fim, as metáforas são amplamente exploradas, conferindo uma considerável profundidade à obra e aos personagens. São esses elementos que, progressivamente, constroem a tensão e gradualmente atribuem significado ao panorama do Overlook.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)