Por Daniel Paes
Editora Aleph: Abril, 2017
Duna é um romance de ficção científica escrito pelo autor americano Frank Herbert, publicado pela primeira vez em 1965. A trama acompanha o jovem Paul Atreides, o herdeiro de uma família nobre, que se vê no meio de uma intriga política envolvendo o império intergalático e feudal. Cada planeta desse império é administrado por uma das casas nobres. No início do livro, vemos a família de Paul tendo que se mudar para o planeta desértico chamado Arrakis, que é um local muito importante para a geopolítica desse mundo.
Este romance é um dos mais importantes e grandiosos da literatura de ficção científica. Star Wars (1977), que é um dos maiores ícones da história do cinema, bebe muito na fonte dessa obra. Tatooine e a força talvez nunca existissem se Arrakis e os poderes místicos demonstrados em Duna não tivessem sido apresentados antes. O universo apresentado pelo livro é gigantesco e cheio de detalhes. Herbert faz de tudo para que esse mundo ficcional pareça o mais crível possível. A única obra literária que se compara a essa no quesito de grandiosidade de seu universo é o mundo criado por J.R.R. Tolkien em seus livros. Por conseguinte, a leitura é muito densa e requer muita atenção do leitor. Há muitos detalhes para prestar a atenção. A narrativa não é muito dinâmica. A política é um elemento muito importante do enredo, fazendo com que o romance não seja algo recomendado para qualquer um.
A melhor forma de descrever esse mundo fantástico é da seguinte forma: um cenário estilo Star Wars (1977) misturado com as intrigas políticas de Game of Thrones (2011). No entanto, é importante ressaltar que essa obra veio antes dessas citadas. Duna consegue ter um equilíbrio muito bom entre o futurista e o fantasioso. Ao mesmo tempo que vemos naves e maquinários super modernos, nós também presenciamos personagens lutando com espadas e utilizando um certo tipo de magia. São duas estéticas distintas que se mesclam de forma muito orgânica, em nenhum momento parece que as coisas estão deslocadas.
Aqueles que acham que essa obra é apenas um universo de fantasia cheio de detalhes estão muito enganados. Herbert utiliza dessa ficção para denunciar diversas posturas da humanidade. Um dos pontos mais relevantes do livro é o uso da especiaria chamada melange: ela é o único recurso que permite as viagens intergaláticas nesse universo e, portanto, é algo imprescindível para a geopolítica desse ambiente. Ao olharmos para além da superfície, é possível observar que é uma comparação com o petróleo. Herbert era uma pessoa muito preocupada com a ecologia e reflete muito isso na sua escrita, denunciando que a humanidade precisa começar a usar fontes de energia e combustível renováveis para termos uma organização social mais sustentável e harmônica.
O cerne da obra sempre tenta traçar paralelos com a vida real para denunciar os problemas que assolam a sociedade. O melange é o petróleo, o clima árido de Arrakis lembra muito áreas como o Oriente Médio. O povo nativo do planeta onde a história se passa, os fremen, podem representar tanto índios quanto os povos árabes. As casas imperiais representam as grandes nações que controlam o mundo, que enriqueceram e prosperaram através de sua postura imperialista com o resto do mundo.
Duna vai muito além de uma mera fantasia com um mundo imersivo. É um reflexo da nossa sociedade ilustrada de uma forma diferente. Sua leitura pode não ser para todos. O texto é muito denso, existem muitas tramas paralelas e ele é muito expositivo na hora de explicar os detalhes de Arrakis. Apesar disso, é possível relevar esses aspectos da narrativa e embarcar em um mundo que vai te cativar ao mesmo tempo que irá te fazer pensar sobre sua própria realidade.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)