Por Rodrigo Jardim
“A Cabana”, escrito por William P. Young é um romance que adentra nos difíceis caminhos da busca pela fé, reconciliação e perdão. A história narra Mackenzie Allen Phillips, um pai traumatizado pela tragédia do sequestro e assassinato de sua filha mais nova, Missy. Enquanto luta para conviver com sua dor imensurável, Mack se depara com um misterioso convite para voltar ao local do crime – uma cabana escondida nas montanhas onde sua filha foi morta.
Embora a obra tenha sido criticada em muitos meios religiosos devido às suas abordagens nem um pouco convencionais da Trindade Cristã e de outras questões teológicas, seu reconhecimento e impacto cultural foram notórios, e os prêmios recebidos refletem isso: Retailer’s Choice Award, Gold Medallion Book Award e Platinum Book Award.
Logo após receber o convite e, é claro, aceitá-lo, Mack chega na cabana e encontra uma presença sobrenatural, que se manifesta na forma da Trindade Cristã: Deus Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo. Cada um dos três personagens representa aspectos diferentes de Deus. Os três, de maneira conjunta e também em abordagens individuais, desempenham ao longo da trama importantes papéis na jornada emocional e espiritual do homem, desafiando suas ideias e crenças sobre Deus, perdão e redenção.
Um trecho marcante do livro é quando Mack interage com “Papai”, representando Deus na forma de uma mulher afro-americana, indo totalmente contra suas concepções tradicionais de Deus como uma figura masculina, paterna. Esse encontro mexe bastante com ele, que se vê frente a frente com suas próprias feridas emocionais, devido a seu relacionamento conturbado com seu pai biológico. Nesse momento, o personagem é conduzido ao exercício do perdão e cura interior, muito importantes para o crescimento pessoal desse pai, que traz consigo muito rancor e raiva.
Outro momento chave é quando Mack é confrontado por “Sarayu”, representando o Espírito Santo no corpo de uma mulher espiritual, pura e leve. Sarayu o guia em uma batalha pelo autoconhecimento e aceitação, desafiando-o a se livrar de sua culpa e raiva do ocorrido com sua filha, para abraçar a graça e a compaixão. Além disso, Jesus Cristo é retratado como um carpinteiro amigável e compreensivo, que compartilha momentos de profunda reflexão e ensinamentos sobre o amor incondicional de Deus.
Esse belo livro vai muito além de uma simples história com momentos tocantes; é uma jornada espiritual e mental que desafia os leitores a questionar suas próprias crenças e a entender e se aproximar de um Deus que é amoroso, compassivo e presente em meio ao sofrimento humano. É uma obra que traz esperança e colo para aqueles que enfrentam questões de fé e dor, enquanto os leva a uma caminhada de cura.
No desfecho, Mack chega a uma aceitação e paz interior. Ele libera suas dores, raiva e ressentimentos, se apegando à graça e à compaixão que Deus oferece. Ao assumir essa nova postura, o personagem central experimenta um profundo e belo senso de cura e reconciliação consigo mesmo, com Deus e com aqueles à sua volta. O livro termina com o pai retornando à sua rotina cotidiana, mas dessa vez com uma nova perspectiva e um coração, mente e espírito transformados. Ele agora é capaz de seguir em frente com esperança e fé totalmente renovadas, sabendo que não está sozinho e que o amor de Deus o acompanha em todos os momentos, todos os dias.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)