Oito funcionários vasculham 3 milhões de livros e restauração de um só leva até 2 meses
POR BEATRIZ SALOMÃO
Rio – Nos bastidores da Biblioteca Nacional, em salas excluídas do roteiro de visita pública, atua uma equipe de funcionários — enxuta, mas eficaz — que trabalha para garantir a segurança e cuidar da ‘saúde’ física das obras, além de oferecer serviços de pesquisa para quem não pode ir à instituição. São 630 funcionários que cuidam dos 9 milhões de peças que guardam a História do País. Nesta sexta-feira, a Biblioteca Nacional celebra 200 anos.
Funcionário trabalha no setor que é considerado o CTI da Biblioteca Nacional: restauração de obra com gravura rara inclui recuperação da cor | Foto: João Laet / Agência O Dia
Oito pesquisadores são lotados na Divisão de Informação Documental. Inversamente proporcional ao número de funcionários, é o volume de pesquisa que o grupo faz por mês: 600. O serviço é exclusivo para quem mora longe da capital e precisa encomendar a pesquisa por telefone, e-mail ou fax. Os pedidos vão desde a localização de documentos e artigos em jornais até temas inusitados, como a história dos perus de Natal.
Já informações rápidas, como datas de nascimento e morte são passadas por telefone, sem que o usuário saia da linha. Segundo a chefe do departamento, Anna Maria Naldi, a encomenda pode ser entregue via e-mail (até 5 páginas), CD ou através do rolo microfilme (para livros inteiros). Para uma obra de 200 páginas, o serviço custa R$ 90, em média. “Muitas pessoas pedem artigos antigos que saíram em jornal para ajudar em processos judiciais”, cita.
No Salão de Leituras, há 3 milhões de livros à disposição do público. Após identificar no sistema computadorizado a obra desejada, o usuário envia um papel ao setor chamado Armazém, onde as obras se distribuem por 6 andares de estantes. Para encontrar o título requisitado, oito funcionários se dividem e entregam o pedido em 15 minutos. Detalhe: não há sistema de GPS para ajudar na tarefa e os responsáveis percorrem estante por estante.
“O guia é a etiqueta do livro. Números indicam o local do livro no andar, na estante e na prateleira”, conta Ivone Ribeiro, funcionária há 14 anos.
No mesmo salão, deficientes visuais contam com um moderno escâner que faz a leitura da página independentemente da forma como ela é colocada. O material pode ser gravado em MP3.
Obras de domínio público são digitalizadas e incluídas no site da biblioteca (www.bndigital.bn.br ) e cerca de 30% do acervo já está em microfilme. A técnica ajuda a preservar o original. A Sala de Leitura funciona de 2ª a 6ª, das 9h às 20h e sábado até 14h30.
Tecnologia e cuidado folha a folha
Para garantir que o acervo esteja em bom estado, o Departamento de Preservação e Conservação se preocupa em manter as condições ideais para armazenamento dos livros e recupera os já degradados pelo tempo. Nos locais onde há peças, foram instalados aparelhos que medem temperatura e umidade.
Há ainda sofisticado sistema de detecção de fumaça, além de extintores de incêndio pelo prédio. Todos os funcionários são treinados para apagar fogo. O setor, chefiado por Jayme Spinelli, inclui a área de restauração, considerada o CTI da Biblioteca.
O processo de ‘renascimento’ de um livro, folha a folha, leva em média 2 meses. “Temos máquina que recupera a parte física do papel e preenche falhas. Os escritos não podem ser recuperados. Infelizmente, há casos de desgaste do livro por mau uso do leitor”, conta.
Fonte: O Dia Online – 25/10/2010 http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/10/por_tras_das_prateleiras_da_biblioteca_nacional_119431.html