O Sol é Para Todos, de Harper Lee

Por Flávio Ricardo Herculano Silva

Releituras na Quarentena

Quando me recomendaram O Sol é Para Todos, confesso que tinha uma outra expectativa sobre o livro, porém durante a leitura me surpreendi com a forma a qual o tema é abordado. Escrito em 1960 por Harper Lee, O Sol é Para Todos (ToKill a Mockingbird) se tornou uma das maiores literaturas americanas e até mesmo mundial.

A primeira parte do livro, Scout narra sua infância na cidade de Maycomb  (cidade fictícia), junto com seu irmão mais velho Jem. Com apenas 8 anos, nossa protagonista conta seus dias na escola, seus momentos com a empregada Calpúrnia, suas brincadeiras junto com Jem e as férias quando seu amigo Dill vinha para a cidade e se juntava nas peraltices, principalmente quando se tratava do trio perturbar o velho e misterioso Arthur Radley, apelidado pelas crianças de BooRadley.

A segunda fase continua com o julgamento de Tom Robinson, um homem negro, que é acusado de estuprar uma mulher branca. O caso de Tom, vai parar nas mãos de Atticus, pai de Scout e Jem, o que leva a aproximação de Scout a situação e contar sua visão, que ainda se trata da visão de uma garota de 8 anos.

Fazendo uma análise da primeira parte do livro, é fácil notar que a inocência de uma criança pode ser facilmente influenciada pelo que ela vê e escuta de outras pessoas. Maycomb é uma pequena cidade do Alabama onde o convívio entre ricos e pobres é muito comum, principalmente estre as crianças no ambiente escolar. No período a qual se passa o livro, foi um período onde o Estados Unidos passava por uma grande crise econômica que aumentava ainda mais a desigualdade social. Com isso, a personagem principal do livro que tem boas condições de vida, ouve diversas coisas ruins sobre as pessoas com condições inferiores, sendo assim ela capaz de humilhar seus colegas de sala devido essas condições. Por outro lado, embora ainda viva em uma sociedade ainda extremante racista, inclusive com a presença de sua tia Alexandra que tem pensamentos preconceituosos, Scout acaba levando mais em consideração os ensinamentos de seu pai, o advogado que foi escolhido para defender um homem negro.

Isso nos leva a outra parte muito importante do livro, o julgamento de Tom Robinson. Sendo realmente culpado ou não, um homem negro acaba não sendo ouvido após ser acusado por uma mulher branca. Harper Lee nos joga essa questão e nos deixa a pensar como após mais de 50 anos algumas questões se fazem presente. Em determinado momento do julgamento, Tom é perguntado pelo juiz porque teve medo de ficar no local onde tudo aconteceu e ele responde que não era seguro para um homem preto ficar ali. Esse dialogo nos faz novamente pensar se 1930 está muito longe do que vivemos hoje.

O Sol é para todos traz essa visão, em diversos sentidos, sobre o subalterno, mas narrado do ponto de vista do dominante. É importante também levarmos consideração que a nossa narradora, por se tratar de uma criança (lembrando que Scout tem apenas 8 anos) se encontra em uma situação de construção a qual pode se tornar alguém que oprime ou ajuda o oprimido. Como notado no livro, muitas dessas características já é notada em Scout fazendo com que levamos em consideração mais um pensamento: o que ensinamos para nossas crianças?

Assista ao vídeo sobre este livro em nosso Canal no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=WO1nCULZMaE

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