Por Vitor da Hora Alves Saraiva
O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye, no original em inglês) é um romance publicado pelo escritor nova-iorquino J.D. Salinger, no ano de 1951. O livro foi um fenômeno editorial e é um dos mais vendidos de todos os tempos, ultrapassando 60 milhões de cópias e tendo sido traduzido para dezenas de idiomas, além de figurar em diversas listas elaboradas pela crítica especializada (BBC, Time, Le Monde, etc.) sobre as melhores obras literárias do século XX. Jerome David Salinger nasceu em Manhattan (Nova York) em 1919, e ficou conhecido por contos – dentre os quais, o célebre Um dia ideal para os peixes-banana – publicados na tradicional revista The New Yorker ao longo da década de 1940. Foi nesta mesma revista em que os capítulos que formam o romance foram publicados originalmente, em formato de folhetim, nos anos de 1945 e 1946.
O livro conta a história do adolescente Holden Caulfield: nascido em uma família de classe média alta em Nova York, ele está de retorno para casa por conta do recesso das festas de final de ano, após ser expulso do internato onde estudava por mau desempenho escolar. A trama se passa em um único agitado final de semana, no qual Holden acaba se colocando em algumas situações adversas e de excessos, além de reencontrar antigos conhecidos e também conhecer pessoas novas, enquanto adia seu constrangedor retorno para a casa dos pais. Caulfield é um jovem de 16 anos de idade que pode ser descrito como rebelde, inconformado, sarcástico e teimoso, sendo descrente com a vida e cético com as pessoas que o cercam. Por trás da personalidade indomável existe um adolescente fragilizado por uma série de traumas: a precoce morte de seu irmão mais novo, e o suicídio de um colega seu do internato, além de outras questões que o narrador só se permite revelar ao final da trama.
Composto por vinte e seis capítulos, o livro é narrado em primeira pessoa pelo protagonista, em linguagem bastante irreverente e informal. Os capítulos curtos somados ao linguajar despojado do protagonista tornam a leitura bastante fluida, mesmo que a trivialidade do enredo resulte num desenrolar arrastado e anticlimático. Atualmente o enredo pode não soar revolucionário, visto que obras com narrativas coming-of-age foram se tornando cada vez mais comuns nas últimas décadas, mas o Apanhador tem seu mérito em ter sido precursor desse estilo. Escrito num contexto de imediato pós Segunda Guerra e publicado no alvorecer da conservadora década de 1950, o livro foi extremamente inovador para a época com o seu ineditismo em colocar o jovem num papel de tanto protagonismo, e utilizando uma linguagem jovem direcionada para os próprios jovens. A postura questionadora do protagonista ao longo da trama representa uma crítica ao american way of life, em expansão neste período, e ele é muitas vezes tido como uma das mais emblemáticas encarnações dos anseios de várias gerações de adolescentes. Por estes motivos, o Apanhador é considerado um dos pilares da formação de uma cultura juvenil durante a segunda metade do século XX, sendo cultuado por uma legião cativa de leitores – e criticado por outra, além de ter sido objeto de controvérsias acerca de seu conteúdo – ao ter aberto as portas para mais obras de mesmo pano de fundo, sendo influência inconteste para produções subsequentes sobre os dramas da adolescência.
Faz muito tempo, muito mesmo, que eu vejo e escuto referências sobre este livro, mas eu decidi lê-lo somente agora, é uma pena, eu já saí da adolescência. Contudo, nunca é tarde para se ler um livro, que esteja vivo, está valendo.