Por Dan Griner
“Os nossos corpos são colocados constantemente em análise
minuciosa, mas a escolha de participar em Muay Thai e outras
Artes Marciais me permitiu transformar meu próprio corpo em um
lugar de resistência às normas que são comumente colocadas nos
corpos femininos.”
– Stephanie Phillips (Introdução de “Eight Limbs”)
Com roteiro de Stephanie Phillips (Harley Quinn, Grim), arte de Giulia Lalli (Ruination), cores de Lee Loughridge (Canário Negro, Deadly Class) e letras de Andworld Design’s Jame, a obra nos apresenta um olhar sensível e intenso sobre a busca por expressão a partir das artes marciais — narrativa, esta, inspirada pelas experiências da própria autora, como ela aponta na introdução.
A história acompanha duas perspectivas — Mari, uma garota que ainda busca por expressão e uma família, e a aposentada campeã de Muay Thai, Joanna. No entanto, o que une as duas narrativas são dois eixos: o primeiro, familiar, ocorre, pois Joanna, por já conhecer a agente de adoção e ter passado por uma infância e adolescência parecida, faz um favor e fica com a custódia temporária de Mari até a sua adoção por uma família local ser efetivada. Já a segunda é a partir do paralelo entre as duas protagonistas, assim como a roteirista, em que utilizam e enxergam seus corpos como atos de resistência, o que se desenvolve em uma relação única de amor.
O livro, publicado pela editora Life Drawn, é de maestria fenomenal, seus momentos cotidianos, como um jantar em família, possuem um humor e sinceridade emocionantes, enquanto as aulas de Muay Thai trazem uma clareza e as cenas de box uma tensão visceral. E todas essas sensações que listei só acontecem por conta dos ingredientes que os três artistas trazem, pois, enquanto as palavras são pensadas por Phillips e escritas por Jame, é somente com a adição da atuação e cinética sequencial de Lalli e as cores emocionantes de Loughridge que a HQ “entra no ringue”.
Pessoalmente, acredito que somente enfrentando nossos sentimentos com toda a vulnerabilidade ao nosso dispor é que podemos encontrar nossas vozes e aceitá-los de forma particular, e “Eight Limbs” consegue trazer exatamente essa mensagem. Portanto, recomendo a qualquer pessoa que esteja passando por dificuldades emocionais ou que se interesse por Arte Marcial. Não se “esquive” (desculpe pela piada) e encare o livro com o coração aberto, para desenvolver mais o seu corpo como expressão e resiliência.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)