“A Hora da Estrela”, Clarice Lispector

Por Sarah Suzart

Em 1977, Clarice Lispector escreveu seu último livro, “A Hora da Estrela”. Com o objetivo de causar um distanciamento, ela cria um narrador fictício e o nomeia de Rodrigo S.M., entretanto isso não foi suficiente para esconder os traços característicos de sua escrita inconfundível. Apesar da obra ser curta, ela pode ser organizada em duas partes, mesmo que essa separação não seja apresentada de maneira evidente, pois o livro possui uma escrita fluida. Existem apenas algumas interlocuções que têm como finalidade explicar os pensamentos ou cenas delimitadas por quebra de linha.

A primeira parte é iniciada pelo narrador relatando assuntos aleatórios, como as técnicas usadas para narrar o conto, o porquê de narrar esse conto, e também uma pequena descrição sobre a protagonista do conto, Macabéa. Somente na segunda parte que o enredo da obra começa a ser narrado. A alagoana se muda de sua terra-natal para o Rio de Janeiro depois que sua tia morre, ela era sua única família. Na nova cidade, consegue um trabalho como datilógrafa e usa seu salário apenas para ir ao cinema e beber Coca-Cola. Ela reserva suas horas livres para ouvir a rádio relógio, onde escuta com atenção e memoriza todas as informações fúteis que nela são apresentadas, as quais dão credibilidade como se fossem fatos.

A protagonista conhece um homem chamado Olímpico de Jesus, um operário de uma metalúrgica, e inicia um relacionamento precocemente. Contudo, ele era muito diferente de Macabéa, suas principais características eram: ser muito decidido, ter muitas expectativas e planos para o futuro, e não perdia a oportunidade de fingir que sabia a resposta para todas as perguntas da alagoana. Depois de algum tempo de relacionamento, Olímpico se torna abusivo e ofende Macabéa de várias maneiras durante todos os momentos que estiveram juntos. Por fim, ele a deixa para  começar um relacionamento com a colega de trabalho da datilógrafa, o nome dela era Glória. 

Macabéa, que até passar por essa desilusão amorosa acreditava ser feliz em sua vida lastimável e marcada por maus tratos causados por todos em quem um dia confiou, inicia uma reflexão sobre assuntos que jamais havia questionado antes, como seu futuro, sua identidade e sua solidão. Sua colega Glória aconselha que ela marque uma consulta com a cartomante para descobrir o seu futuro. 

A protagonista ouve da cartomante notícias maravilhosas sobre o seu futuro. Ela diz que tudo dará certo na vida da datilógrafa, que ela encontrará um homem respeitoso que vai amá-la incondicionalmente e que sua estrela finalmente brilhará e a levará para um caminho de muito sucesso. Porém, ao sair do consultório da cartomante, Macabéa é atropelada e esse é o único momento em que todos param para vê-la, ou seja, foi somente em sua morte que ela deixou de ser invisível para a sociedade e sua estrela teve o mais breve brilho que já existiu.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *