A Guerra que Salvou a Minha Vida (The war that save my life), de Kimberly Brubaker Bradley

Por Estefânia Berrini da Fonseca

Releituras na Quarentena

A história se passa em Londres no ano de 1939 e é contada a partir do ponto de vista de Ada, uma jovem de 10 anos que nasceu com um pé torto e nunca teve a chance de sair do seu apartamento, porque sua mãe (Mãe como Ada a chama) tinha vergonha do pé de sua filha e a maltrata sem parar. Para manter Ada ocupada, ela a obriga a fazer trabalhos domésticos, enquanto sai para trabalhar em um bar. Os únicos contatos com o exterior que Ada tem são: a sua pequena janela do quarto, um amigo que a cumprimenta chamado Stephen White e Jamie, o irmão caçula de Ada que tem permissão para sair do apartamento, mas também sofre abusos da Mãe.

Quando Jamie conta sobre a vinda da guerra e de que as crianças estão sendo evacuadas para o campo por segurança e vão morar em lares provisórios, Ada fica preocupada se ela tem permissão para sair, mas Mãe debocha dela dizendo que ninguém jamais a acolheria ou a amaria por causa da deficiência. Vendo que não adiantava contar com a ajuda da Mãe, Ada decide fugir junto com Jamie e mesmo com o pé torto, eles conseguem chegar na estação de trem com a ajuda de Stephen que a carrega até o assento do trem para os evacuados.

Quando chegam no vilarejo de Kent, Ada e Jamie são escoltados pela chefa do Serviço de Voluntariado Feminino, Lady Thorton, que percebendo que eles ainda não tinham sido acolhidos, os leva para morarem com Susan Smith, uma senhora que um dia já havia sido professora na Universidade de Oxford, que a princípio não se sentia capacitada para tomar conta deles, mas aos poucos a convivência entre os três vai amolecendo Susan, que demonstra ser uma excelente figura materna para as crianças. Ada e Jamie experimentam coisas novas que antes nunca tinham experimentado, especialmente Ada, que passou a maior parte de sua vida sendo excluída do mundo e agora tem a oportunidade de aprender a ler, escrever, cavalgar num pônei chamado Manteiga que pertenceu à “amiga” de Susan, Becky.

A narrativa conta que Becky e Susan moraram juntas até a morte de Becky e que após tal evento, Susan tornou-se mais reclusa e mesmo a história não nomeando, haviam indícios de que ela entrou em depressão após o falecimento de sua companheira. Ada também aprende a confiar mais em si mesma e nos outros aos poucos, enquanto lida com sua insegurança e o medo de não ser aceita devido aos traumas que sofreu pelos abusos de Mãe, em meio a um ambiente diferente do qual estava acostumada, observando as mudanças causadas pelos conflitos da guerra.

A autora usa a 2ª Guerra Mundial como pano de fundo para nos envolver em uma leitura rápida, mas profunda, tratando de temas importantes como o abuso infantil, a superação, a esperança, a confiança, o amadurecimento, dentre outros. Presenciamos e sentimos através do olhar de Ada, como ela supera os obstáculos que vão aparecendo ao longo de sua jornada interna e externa, adquirindo coragem para lutar contra seus medos com o apoio das pessoas que vão aparecendo e mudando sua vida.

É uma história maravilhosa que vale muito a pena ler, que nos ensina a criarmos coragem para encarar os ambientes desconhecidos com os quais nos deparamos, a enfrentar nossos próprios medos para que não sejamos oprimidos por eles ou por aqueles que nos machucam e a contar com o apoio daqueles que são importantes para nós.

O livro ganhou o Newbery Honor Awards, ficou em 1º lugar no New York Times e ganhou uma continuação chamado “A Guerra que Me Ensinou a Viver”, lançada no Brasil pela editora Darkside (Ano: 2015, 240 Páginas)

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